terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA... (8)

O próximo item do capítulo intitula-se Do Dualismo à Identidade Individuada [From Dualism to Individuated Identity].

É quando os autores caracterizam o pensamento ocidental hegemônico como submetido ao dualismo, às visões sistemáticas do mundo, enfim, aos modelos amparados em uma compreensão interpretativa (paradigmática) do Ser.

Para eles, todos os “contos da carochinha” da filosofia racionalista (Religião, Política, Ciência, Tecnologia e Psicologia) estão contaminados ideologicamente pelo dualismo. Em todas as abordagens da atividade tipicamente humana, sobretudo na contemporaneidade, encontram-se subjacentes as noções de autoconsciência e abstração (ou alienação), herdada dos gregos.

DeusXHomem, HomemXSociedade, ObservadorXObservado, CorpoXMente. O dualismo, em última instância, revela-se prerrogativa para o entendimento do ser humano e de sua atividade prático-intelectual seja na Religião, Política, Ciência, Tecnologia e Psicologia.

Explicam que apesar de periódicas “revoltas contra o dualismo” este modo dicotomizado (alienado ou “cindido”) de ver e compreender o mundo têm contaminado as pessoas ao longo dos séculos.

Entendem que o conhecimento abstrato e os modos de percepção encontram-se firmemente atados, oportunizando portanto a emergência da metáfora do ver e da visão - que pode ser facilmente identificada, por exemplo, em expressões cotidianas do tipo “eu vejo” e “eu sei”.

Revelam todavia que a problematização do “lado oculto” dos modos de pensar trazida pelos pós-modernistas levaram muitos psicólogos e filósofos simpatizantes do movimento [Pós-Modernismo], particularmente os militantes feministas, a rotularem a metáfora visual da Modernidade como “falocêntrica” – por acreditarem ser ela insuficiente para acolher novos modos de pensar (invaginação). [With postmodern “hindsight”, some feminist philosophers and psychologists, noting how pervasive the employment of the visual is to account for knowledge, have suggested that the visual metaphor is essencially phallocentric (p. 23)]

Em resumo, consideram o método socrático (o dualismo) uma crença “platônica” para referir o caminho em que as pessoas supostamente se moveriam no escuro da caverna, incandescidas pela luminosidade exuberante da Verdade - que estaria fora dela (da caverna). Para eles, o que se oferece às pessoas nas prateleiras dos supermercados do conhecimento na contemporaneidade não seria o Saber mas antes um modelo para pensar (um paradigma).

Para contrastar com este tipo de entendimento “míope” do psiquismo tipicamente humano [Filosofia Racionalista] os autores sugerem que se dê uma chance à explicação segundo o modelo marxiano, fundado na PRAXIS, no trabalho; por ser o trabalho uma atividade colaborativa relacional sócio-histórico e culturalmente enraizada.

Seriam promissoras abordagens ao conhecimento que renunciassem ao modo platonizado de entendimento da vida humana – que lamentavelmente tem dominado os “contos da carochinha” modernistas e sustentado a ideologia da filosofia ocidental hegemônica, ao longo dos séculos.

Consideram que a emergência do “euismo” no ver da filosofia racionalista grega encontra sua apoteose na pessoa individuada idealizada da religião pré-moderna, do Estado moderno e, a partir dos estertores do século XIX, da Psicologia. Para eles a Psicologia enquanto nova “ciência” foi criada no intuito de conduzir a “normalidade” e as enfermidades que a autoconsciência individuada manifesta e sofre.

Antecipam seu ponto de vista radical: o de que a Psicologia em si, como os outros filhos da Filosofia Ocidental, é um “conto da carochinha”, um mito; um mito fruto da relação incestuosa entre ela e sua genitora, a Filosofia Racionalista.

Encerram o item para retomar a exposição abreviada da trajetória panorâmica do pensamento intelectual no Ocidente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário