domingo, 16 de janeiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA... (19)


O ítem O Ludwig Wittgenstein Maduro [The Late Ludwig Wittgenstein] conclui a primeira parte do livro. Nele os autores esclarecem que a morte de Wittgenstein por câncer,em 1951, o poupou de ter visto sua obra rotulada por John Austin de “lógico-positivista” e atrelada ao pensamento do Círculo de Viena; mas que ele sobretudo perdeu a chance de acompanhar o desenvolvimento de suas idéias por parte da crítica pós-modernista contemporânea.

A seguir buscam expor o desenvolvimento das ideias de Wittgenstein na maturidade e de como isso serviu de base para abordagens antipsicologizantes da Psicologia. Começam por afirmar que, para além da dimensão crítica facilmente constatada em sua visão sobre a Filosofia, Linguagem e Metodologia Científico-Filosófica os escritos de Wittgenstein revelam que seu discurso dirige-se para terapeutas; que suas críticas ao modo “modernista” de pensar assumem feições de  tratamento clínico não sistemático para filósofos e pessoas comuns.

Revelam que para ele [Wittgenstein] a Filosofia era a “doença” [desease], a Linguagem seu “vírus transmissor” [carrier] e a Metodolgia Científico-Filosófica o hospital dos quais a Ciência jamais desconfiou precisar ou desejou ter; que este é o assunto dos próximos capítulos do livro: como a pseudociência infectou de maneira sórdida e vergonhosa as sementes “malditas” que deram origem à Filosofia e Ciência Modernistas.

Prometem demonstrar porque Wittgenstein e Lev Vigotskii são considerados “avôs” do Pós-Modernismo e advertem que não se encontram sozinhos na defesa de seu ponto de vista, invocando o amparo da legitimidade acadêmica de um número crescente de psicólogos contemporâneos (Gergen, Jost, Shotter, van der Merwe e Voestermans) que se encontram, assim como eles [os autores], engajados no esforço de criar uma abordagem clínica assistemática, relacional e não baseada em julgamentos prévios considerados “verdades.”

Apresentam em socorro de suas idéias o pensamento provocativo de renomados acadêmicos da contemporaneidade ao redor do mundo como Derrida, Foucault, Habermas, Heidegger e seus seguidores que também se levantaram impertinentes contra a Ciência Modernista deflagrando a “revolta pós-modernista” - sufocada há meio século pela imposição hegemônica do modelo autoritário epistemológico típico do Modernismo.

Para eles [os autores] a “revolução wittgensteiniana” é tão ou mais importante que as “marxiana” e “freudiana” para o entendimento do mundo e da vida na contemporaneidade. Relatam que apenas muitos anos após sua morte [de Wittgenstein] seus seguidores póstumos tornaram acessíveis suas ideias nas universidade norte-americanas gerando uma “febre” pelo interesse em temas como a Filosofia da Mente ou Psicologia Filosófica, Filosofia da Linguagem, Lógica e Ciência.

Revelam-nos que um dos mais acalorados debates travou-se em torno da problematização da “explicação.” Que este debate teria sido longamente alimentado pelo questionamento de se haveria - e qual seria - a diferença entre a descrição das ações humanas e dos eventos não humanos.

Holzman&Newman fazem então questão de destacar o importante papel nas discussões da Academia norte-americana sobre a “explicação” desempenhado pelo ensaio A Função das Leis Gerais na História [The Function of General Laws in History] de Carl Hempel reeditado em 1965 (originalmente publicado em 1942) - no qual se defendia a aplicação da “crônica científica” indistintamente tanto à Fisica, Biologia e Química quanto à História.

Explicam que as ideias de Hempel foram retomadas por Davidson em 1980 propondo um “analiticismo neopositivista” que causou grande rebuliço e contra-ataque por parte de filósofos da mente e estudiosos da psicologia filosófica. Afirmam que começava ali a aventura da psicologia pós-moderna sóciocrítica para de(s)construção teórica da Ciência Modernista.

Para eles é na década de noventa do século passado (Século XX) que se lançam as bases para um radical desafio à Psicologia e Ciência hegemônicas. E que a impertinência pós-modernista fortaleceu-se com as produções de filósofos influenciados por Wittgenstein como o canadense William Dray e o indiano Michael Scriven - que abertamente se opuseram a Hempel e Davidson insistindo em ressaltar a dimensão metanarrativa e autoreferencial da “crônica científica”, chamando atenção para o importantíssimo papel do contexto histórico-sóciocultural na colaboração dos enunciados “científicos.”

Porém, sustentam os autores, que apesar da valiosa contribuição de Dray e Scriven para o posterior desenvolvimento do pensamento pós-moderno seu excessivo foco no contexto os impediu de problematizar a “contextualização” do contexto – algo que só a Teoria Histórico-Cultural da Atividade, inaugurada por Lev Vigotskii, em sua opinião, ousou corajosamente equacionar.

Passam a efetuar uma breve exposição da biografia de Lev Vigotskii e ressaltam que tanto ele [Vigotskii] quanto Wittgenstein não tiveram oportunidade de cotejar seus respectivos pontos de vista sobre o psiquismo tipicamente humano; que o pensamento de ambos só muito recentemente tornou-se conhecido.

Em sua opinião, Vigotskii e Wittgenstein são ambos os responsáveis pelo “sepultamento” definitivo da Psicologia Hegemônica – viva ou morta; que eles [Wittgenstein e Vigotskii] são os mentores do “atentado” devastador que tomou de assalto a Psicologia Científica - consumado por toda uma legião de “herdeiros” intelectuais, nos quais orgulhosamente se incluem. Afirmam que se há uma fábula pós-moderna a ser contada é a que eles apresentam no seu Psicologia Acientífica.

Concluem a primeira parte do livro resumindo o seu depoimento pós-modernista apresentado ao longo dos primeiros capítulos. Consideram possível que eventualmente a Ciência venha suceder a Filosofia destituindo-a do seu reinado e que a Filosofia, na contemporaneidade, é celebrada como um “monumento” a ser venerado - e uma piada; mas que até mesmo piadas podem ser mercantilizadas na cultura pragmática e monetarista da contemporaneidade porque, como se costuma dizer: “Se algo não serve para fazer dinheiro, não significa nada!” [If it don’t make no Money, it does not mean nothing (p. 53)]

Anunciam que demonstrarão na segunda parte do livro as transações que converteram a Psicologia na fábula mais vendida [best-seller] da contemporaneidade.


NOTA EM RODAPÉ

Para conhecer mais sobre as abordagens clínicas assistemáticas valeria a pena consultar TURATO, Egberto Ribeiro (2003) Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa – construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis: Vozes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário