quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA ( 10)

No item A Crônica Científica [The Science Story]
Holzman&Newman discorrem sobre como o Modernismo reelabora a racionalidade e a concepção do ser humano tanto em relação à Natureza quanto em relação à Divindade em sua narrativa ou fábula. O Homem Moderno é o homem racional, criação extraordinária da Divindade, que se distingue da Natureza e, mais, que é capaz de compreendê-la e controlá-la através do empirismo e da matematização; o conhecimento passa a relacionar-se cada vez menos com uma graça ou concessão divina e bem mais com o poder do próprio homem sobre a Natureza.

Tanto na lógica aristotélico-tomista quanto na lógica formal ou material tende-se a expressar as estruturas do pensamento deduzindo-as de uma quantidade reduzida de axiomas “estáticos” ou imobilizados pela abstração. A Ciência Modernista é construída sobre estas condições “artificiais” (idealizadas ou matematizadas) e sua narrativa predomina indefectível ao longo de todo o século XX. Isso equivale dizer que a epistemologia (conhecimento a respeito do mundo) subjuga a ontologia (existência real do mundo).

Nos séculos XVI e XVII, a partir de Descartes e de seu famigerado cogito (“Penso logo existo”) a realidade deixou definitivamente de ser concebida como ontologia (como existência real ou “Ser em si”) para converter-se fundamentalmente em uma epistemologia (conhecimento sobre o mundo ou “Ser para si”) que pressupõe o Homem sabichão, arguto observador e sobretudo poderoso agente ou interventor tecnológico em benefício próprio.

Holzman&Newman servem-se do famoso pronunciamento de Bishop Butler para caracterizar pedagogicamente a principal questão ontológica: “Tudo é o que é, nada além disso” [“Everything is what it is and not another thing” (p.30)]. Aos modernistas só restaria portanto indagar epistemologicamente: “Como se sabe o que é?”

Os autores destacam os relevantes papéis desempenhados pelas descobertas de Nicolau Copérnico (Sec. XV), Galileu Galilei (sec. XVI) e Isaac Newton (Secs. XVII-XVIII) na propulsão do pensamento “científico” graças à matematização e ao impacto das produções intelectuais copernicanas, galileanas e newtonianas no progresso tecnológico bélico-náutico durante os séculos subsequentes.

Mas, insistem: nenhuma das conquistas obtidas ousou romper com as raízes sedimentadas na “lógica aristotélica.” Apenas teria ocorrido uma mudança na visão de mundo em razão de a ontologia ter sido “cientificizada”; no modo como se vê o mundo resultante da “modernização” do homem espistemológico; e na forma como a ontologia e a epistemologia interagem na colaboração do conhecimento com o uso “hegemônico” do método dedutivo-causal.

Explicam-nos não ter ocorrido nenhuma mudança fundamental nos modos de pensar ao longo do desenvolvimento histórico da Filosofia; que isso só passará a ocorrer quando os esforços para matematizar a Lógica farão emergir sérios problemas teórico-metodológicos e práticos. É este o assunto que será abordado no último item do segundo capítulo, intitulado A Lógica da Particularidade e da Identidade [The Logic of Particularity and Identity]

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