Neste item do capítulo [Filosofia e Percepção] HOLZMAN&NEWMAN discorrem como os modos de perceber o mundo impactam o filosofar, retomando importantes concepções epistemológicas pré-socráticas sobre a ontologia. Destacam particularmente a metáfora da impossibilidade de banhar-se duas vezes no mesmo rio de Heráclito (que traduz a promissora noção de movimento permanente, Fluxo ou “devir-do-Ser”) e sua oposição à idéia de Permanência definitiva do “Ser” contrapondo-se ao “não-Ser”, de Parmênides.
Discorrendo sobre as contribuições dialéticas de Zenão de Eleia, discípulo de Parmênides, destacam-lhe a sábia concepção do pensamento como propulsor da movimentação de conceitos em si mesmo.
Preferem entender como ingênua a teoria de Tales de Mileto sobre a “água” como princípio inaugural da animação infinita única e universal e destacar a dicotomia SingularXUniversal, FinitoXInfinito valorizada pelo acalorado debate entre Heráclito e Parmênides – que foi aproveitada habilidosamente pelo jogo de linguagem da argumentação filosófica de Platão.
Ao afirmar o decisivo papel da PERCEPÇÃO na elaboração das visões de mundo em ambos (HeráclitoXParmênides), Platão retrata a epistemologia e a ontologia como fundamentalmente percebidas.
Para os autores a dicotomia SUJEITO COGNOSCENTE X MUNDO COGNOSCÍVEL teria se tornado essencial para o pensamento platônico e a partir de então para a Filosofia e para a aventura intelectual ocidental através dos séculos.
NOTA EM RODAPÉ
Neste momento de sua provocativa tese talvez os autores pudessem sinalizar a dimensão metafórica dos nomes atribuídos pelos gregos aos conceitos que buscavam representar. Hegel poderia ajudá-los no enriquecimento de sua argumentação ao esclarecer o que Tales de Mileto ambicionava referir por “água”:
“O princípio [Ser] entre os filósofos antigos possui, primeiro, uma forma física determinada. Vê-se que a água é um elemento, um momento no todo em geral, uma força física universal; mas outra coisa é que a água seja uma existência física singular como outras coisas naturais... Aqueles princípios [água, fogo, ar, terra] são figuras singulares.” [ Extraído de Preleções sobre a História da Filosofia][Maiúsculas minhas]
Citado por Ernildo Stein em SOUZA, José C. de [Org] (2005) Tales de Mileto Os Pré-Socráticos – Fragmentos, Doxografia e Comentários. São Paulo: Nova Cultural, p. 42-43.
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