PÁRODO CORAL
PRIMEIRA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA
Ouve-se um toque de atabaques para Iansã que se torna cada vez mais intenso
Coro de beduinos
Uma tempestade de areia se aproxima em fúria
Amarremo-nos uns aos outros sem demora
Atados a cordas teremos mais chance de não sermos tragados pelo vento forte
A poeira dos séculos lança-se sobre nós sem piedade
Rajadas de pó fustigam nossos olhos e turvam nossa visão
Nos fazem chorar sem dor e embebedam nosso olhar
Vejam! Uma sombra se move veloz ao longe
Parece ser um cavalo indomado
Sim, um equus ferus voando tal qual Pégasso
Vejo um cavaleiro sem tropa empunhando um arco e flecha
Vejo um andarilho puxando sua montaria
Vejo um homem e vejo um cavalo
A areia não deixa nossos olhos ficarem suficientemente abertos
Protejam os olhos com seus turbantes
A areia lançada pelo vento furioso pode nos fazer cegos para sempre
É miragem: um sagitário cavalga equus!
Sim, também vejo um arqueiro sobre o cavalo
Não, não são dois, são um: metade arqueiro, metade cavalo
Metade homem sobre as patas dianteiras...
Metade cavalo a partir da pélvis. Tenho medo.
Se o que vemos é miragem porque todos a enxergamos a mesma criatura?
Deuses!
É Kyro, a “sereia” do deserto.
Sim, é ele, Alfa Centauri, o segundo sol
Sim é ela, a estrela mais próxima ao sol
Vejam acima de nós, no céu austral, a constelação do centauro
É ele.
Sim, é ela!
Olhem para cima, para cima!
A sombra luminosa do Saara
O treinador de Hercules
O professor de Jasão
O totem da dinastia Soter Ptolomeu
O elo entre a razão e a paixão
O filho da união pervertida da besta com o homem
A cria do coito entre a mulher e o cavalo
O fruto do sexo proibido entre bicho e gente
O filho da égua
Vem à frente da tempestade empunhando o arco e a flecha
Apavora a todos trazendo com ele um tornado de areia
O vento forte que tudo pode esconder ou remover
Não desatem as amarras uns dos outros
Deixemos passá-lo com sua tempestade
Vejamos o que nos vai revelar ou o que esconderá sob a areia dos séculos
Quais segredos deseja acobertar?
Quais mistérios desvendará?
Que Kyro cumpra seu dever aterrorizante
E nos faça testemunhas de suas façanhas extraordinárias
Que Ele nos poupe do soterramento
Que nos desenterre da areia do deserto
Como fez à dinastia Soter mostrando-a ao mundo!
Que a força do vento que traz do atlântico
Faça o Egito resplandecer para sempre!
Que revolva nossas paixões
Acobertando-as com a poeira do inconfessável!
Kyro, Senhor dos ventos e das tempestades!
Prometemos-lhe muitas pilhas de feno se poupar nossa valiosa carga
Se nos permitir chegar com vida em Alexandria
A tempo do embarque de nossa preciosa mercadoria
A ti renderemos homenagem no estábulo dos Soter Ptolomeus
Alimentaremos os cavalos do exército real durante duas luas
Lavaremos o seus pelos e lustraremos seus cascos
Escurecimento lento. O toque dos atabaques atinge o volume máximo. O vento segue seu caminho afastando-se com a luminosidade em declínio.
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