quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA (23)

Em A Hegemonia do Conhecimento [The Hegemony of Knowing] os autores chamam atenção para o papel decisivo do conceito de CONHECIMENTO para entender-se tanto o modelo de desenvolvimento euro-americano da Psicologia como suas críticas. Eles consideram que desde a antiguidade clássica até a contemporaneidade o conhecimento tem se afirmado como necessário para o entendimento e significação do mundo; que o conhecimento tem sido compreendido como possuindo uma natureza cognitiva, como algo que ocorre no interior da mente das pessoas - até mesmo entre os que concordam ser o conhecimento produzido histórico-culturalmente a partir de interações sociais.

Esclarecem que para os pós-modernistas o cognitivismo é o que há de mais antidesenvolvimental e inumano no pensamento modernista; e que o enfrentamento corajoso do cognitivismo é a principal “bandeira” do Pós-Modernismo. Demonstram a pertinência de sua afirmativa recorrendo a uma extensa citação de McNamee&Gergen em Terapia e Construção Social [Therapy as Social Construction] em que estes psicoterapeutas discutem os vieses do cognitivismo na clínica terapêutica revelando como a suposta assepsia “científica” do olhar medicalizante do terapeuta constitui impecilho para uma abordagem mais honesta da interconexão entre as subjetividades e o contexto semântico em que ocorrem as interações entre paciente e terapeuta. 

Utilizam também palavras de Danzinger para corroborar a artificialidade do conhecimento produzido por meio de um modo tão desconectado e distante de qualquer aspecto da vida cotidiana (o paradigma modernista) e portanto destituído do rigor metodológico necessário para o genuíno entendimento da vida humana.                                                                                                                                                         

Procuram demonstrar como a “nova” ontologia formulada pela Psicologia Científica encontra-se fortemente atada à legitimação de práticas investigativas que por sua vez corroboram práticas equivocadas prévias e recorrem como ilustração de sua afirmativa aos famigerados “testes mentais” – segundo eles o mais lucrativos investimentos da Psicologia – utilizados amplamente em processos seletivos da Academia e de acesso diagnóstico à clínica terapêutica.

Com auxílio da opinião de outros renomados pensadores como Danzinger, Burman, Mors, Rose e Gergen denunciam como a dimensão discursiva se sobrepõe às práticas consideradas “científicas” e resultaram por traçar a trajetória da Psicologia como possuidora e produtora de conhecimento especializado sobre o psiquismo humano – um conhecimento distorcido que não contempla satisfatoriamente aspectos socioculturais dos modos de ser e de pensar das pessoas.

A seguir apresentam o item A Loucura do Método [Mad about Method]


 NOTA EM RODAPÉ

É interessante trazer para o nosso cotidiano as implicações e interesses econômicos por trás dos testes e da aferição “objetiva” do desempenho escolar - aceitas acriticamente pelas pessoas em um nítido processo, nem sempre consciente, de reificação (naturalização) deste arsenal de dados forjado não desinteressadamente por organizações “gestoras” do conhecimento na contemporaneidade. Eventos “traumáticos” como ENEM buscam atender exigências “internacionais” hegemônicas de medição e aferição do aprendizado escolar que insistente e despudoradamente utilizam o modelo modernista de avaliação supostamente “científico” – incompatível com a perspectiva pós-modernista de entendimento do psiquismo tipicamente humano.


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