quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

ANTILEXtranz (10)

DÉCIMA SEGUNDA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA

ÊXODO

         Creonte e Yrma, lado a lado, no baixo centro do proscênio, assistem ao acendimento da pira por Cornélius sobre o altar que se encontra em meio à orquestra. Percussão e música festiva com címbalos e flauta. Um maratonista dirige-se ofegante a Cornélius e sussurra-lhe algo no ouvido. Cornélius dirige-se ao proscênio pela escadaria à direita do proscênio e pronuncia em voz baixa o informe do maratonista a Bôca. Bôca transmite a informação a Creonte.

Caprus Creonte
Sabe-se a identidade do subversivo mascarado?
Bôca
Ainda não, senhor. Mas deve ser alguém que possui acesso à alta cultura porque usava máscara teatral trágica.
Caprus Creonte
Ofereça sete dinheiros para quem delatar o piromaníaco detrator do meu imperial decreto-lei. Seja lá quem for: que queime incendiado na ágora pelas labaredas do fogo que ousou acender para chorar os príncipes mortos, desafiando-me. Temos tempo para organizar um contra-ataque ao levante?
Bôca
Só há tempo para rápida retirada.
Caprus Creonte
(Para Bôca) Prepare um carro com cocheiro para as noivas e cavalos para mim e meus guarda-costas. Ordene em meu nome aos soldados egípcios que resistam o quanto puderem. Irei pessoalmente buscar reforços em Tebas. (Para Yrma) Onde está Antilex?
Yrma
Em sua camarinha finalizando o toucador...
Caprus Creonte
(Para Bôca) Faça soar a cornucópia para que tragam o dossel da primeira esposa sem demora!

         Bôca autoriza Cornúpeto tocar a cornucópia e retira-se apressado. Percussão solene. Fedra e Electra ingressam no proscênio pela porta central e entregam as máscaras a Creonte e Yrma atendendo às intruções de Antilex. O Esquife de Antilex adentra solenemente o proscênio carregado por quatro eunucos.

Caprus Creonte
(Ao receber a máscara) Foi ela. Maldita!
Yrma
(Grita em desepero ao notar que a irmã está morta) Não! (Corre desesperada até o corpo da irmã) Por que? (Abraçada ao corpo de Antilex) Por que?

         Creonte segura Yrma pelo braço energicamente e a retira de cena pela porta central ao fundo do proscênio      .

Caprus Creonte
Não há tempo para chorar os que estão mortos... (Yrma tenta resistir) Vamos, temos que partir o quanto antes. Um levante do exército sírio contra nós está em curso. Sírios sublevados por um capricho de sua irmã amaldiçoada. (Sacudindo-a com força) Você me deve obediência. Sou, além de seu tio e reitor, de hoje em diante, seu marido!

         Conduz Yrma com energia para a porta central ao fundo do proscênio. Yrma deixa a cena olhando para a irmã abraçada a máscara da alegria que lhe foi ofertada. Ouve-se o som da marcha do exército sírio aproximando-se do palácio. Escuro lento. Apenas as labaredas sobre o altar de Capra na orquestra logo abaixo da região anterior central do proscênio onde está estacionado o dossel-esquife de Antilex. Uma multidão de curiosos começa a adentrar a orquestra empunhando gigantescos estandartes com a imagem reticulada de atores gregos.





DÉCIMA TERCEIRA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA

KOMMÓS (Manifestação em coro de todos os atuantes)

(Ator que encarna Cornélio) A sombra noturna encobriu Ancara;
                  (Ator que encarna Cornúpeto) Na sombra movem-se mulheres e homens em direção ao palácio;
                           (Coro de Cidadãos Sírios) Na sombra o exército libertador da Síria se move;
(Ator que encarna o Mensageiro) Enquanto as coisas não acontecem não estamos dispostos a crer que elas sejam possíveis;
         (Ator que encarna Bôca) Mas é claro que são possíveis as coisas que acontecem porque não teriam ocorrido se não fossem possíveis;
                  (Ator que encarna Serviçal do Palácio) Muitas são as ações que uma pessoa pode praticar;
(Atriz que encarna a Criada do Palácio) O que não se vê pode ser acessível através de sensações;
         (Ator/atriz que encarna Fedra) A vivência do misterioso é inexprimível;
(Ator/Atriz que encarna Electra) Mas o invisível não é sinônimo de inatingível;
(Ator que encarna Caprus Creonte) A alma pode saber o que a mente não entende;
(Atriz que encarna Yrma) A sombra é a raiz sobrenatural da existência humana;
 (Atriz/ator que encarna Antilex) A sombra que move Antilex é o alicerce de toda forma de vida. É ela que sedimenta o fundamento dos seres animados e a solidão tipicamente humana. O desamparo de trafegar isoladamente em transe desde um mundo desconhecido em direção ao que nos é dado conhecer;
         (Todos) É essencialmente trágico e inexplicável o existir humano!

                  Canto Coral. Escuro rápido sob intensa percussão retumbante.





Nenhum comentário:

Postar um comentário