sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA (31)

Em A Normalização da Anormalidade [The Normalizing of Abnormality] Holzman&Newman afirmam que a ontologia moderna da doença-saúde mental é uma curiosa fusão da Teoria Freudiana com o modelo técnico-científico e se propõem a dissertarem ao longo do item sobre como o discurso fundado na anormalidade tornou-se o principal capítulo da narrativa sobre a psicologização e construção da subjetividade coisificada/mercantilizada pelo pensamento modernista.

Relatam que a teoria e prática da Psicanálise só passou a ser considerada relevante por estudiosos do psiquismo humano após a II Guerra Mundial; que o freudismo impactou as práticas sociais e culturais como fenômeno de massa tendo auxiliado na revolução sexual dos anos vinte do século passado [sec. XX] gerando grande controvérsia com o Movimento Eugenista e sua “cientificização” da mentalidade criminosa. Subdividem o item em três subitens.

No subitem O Movimento Eugenista [The Eugenics Movement] denunciam a ideologia racista-xenofóbica que sustentou as teses consideradas “científicas” de “limpeza” e “superioridade” racial que justificaram [Justificam?] políticas discriminatórias e restritivas da Imigração focalizando particularmente sua repercussão no Governo norte-americano. Destacam, como exemplo deste tipo de pensamento intolerante, os excessos cometidos pela Legislação norte-americana ofensiva aos judeus - então considerados  “ratazanas humanas” [rat-men] - encorajado pelas ideias de personalidades de destaque na cultura estadunidense como Henry Ford, Theodore Roosevelt e Thomas Edison.

Revelam como os testes de inteligência foram sordidamente utilizados com aval de psicólogos e educadores para vincularem ações imorais e criminosas, preguiça, miséria etc à origem genético-racial de pessoas às quais eram negadas a cidadania norte-americana; mas que as vozes de Margaret Mead, Franz Boas e Ruth Benedict entre outros ativistas sociais e defensores de posturas a favor da liberação sexual elevaram-se corajosamente para questionar e refutar os argumentos eugenistas sobre a “geneticização” do psiquismo.

Localizam o declínio do eugenismo na década seguinte a partir do término da II Guerra Mundial com a tremenda repercussão negativa das atrocidades cometidas pelos nazistas e nova organização das forças produtivas da economia norte-americana fortalecida por seu poder bélico, político e financeiro na cena internacional pós-guerra.

Passam a apresentar o subitem A Popularização da Neurose – Causa, Reabilitação e Prevenção [Popularizing Neurosis – Cause, Rehabilitation, and Prevention] no qual focalizam o impacto humanista do freudismo associado às teorias emancipatórias marxianas sobre o ser humano -necessariamente submetido a processos civilizatórios em diversas áreas da criação artístico-intelectual - e sua disseminação ou “popularização” junto às pessoas comuns.

Segundo os autores foram Freud e Marx quem conferiram legitimidade ao entendimento da criminalidade desvinculando-a da hereditariedade e conectando-a às pressões socioculturais particularmente aquelas presentes nas relações familiares e vivências do sujeito durante a primeira infância.

Destacam as importantes contribuições de psiquiatras simpatizantes da psicanálise como William Healy, Bernard Glueck, William White e de como suas ideias repercutiram por toda a nação norte-americana influenciando o tratamento de pessoas em organizações prisionais e correcionais estadunidenses bem como servindo de sustentação para teses em defesa de criminosos na advocacia forense.

Segundo Holzman&Newman a Psiquiatria e a Justiça foram fundamentais para a colaboração do que se convencionou denominar distúrbio psicopatológico da personalidade criminosa (algo entre o psicótico e o desacato neurótico). Revelam ainda como se deu a repercussão massificada das ideias de Freud em periódicos e revistas destinadas ao grande público norte-americano e internacional como Time e Life - nas quais eram alimentados os interesses burgueses pela educação e cuidados preventivos ao desenvolvimento de neuroses em crianças.

Destacam particularmente  a publicação do livro Baby and Child Care [O bebê e o cuidado da criança] do pediatra Benjamim Spock como marco da consolidação de uma visão hegemônica da “criança universal freudiana” em conflito com o “mundo social” e da Neurose como algo “natural” – que poderia ser evitada ou minimizada pela competência de pais e cuidadores informados dos princípios psicanalíticos básicos.

No subitem intitulado Construindo o Consumidor [Constructring the Consumer] abordam a mercantilização do freudismo através das sofisticadas técnicas de propaganda e marketing contemporâneas nas quais o desejo sexual reprimido é sublimado pelo desejo de compra de bens e serviços, ou seja, a liberação do “recalcado” ocorreria exclusivamente através do consumismo: cigarros e sorvetes são símbolos fálicos e o ato de fumar charutos e cigarros ou lamber sorvetes seria a “sublimação” do erotismo oral, por exemplo.

Denunciam que a Indústria tinha [tem?] em mente o tipo de controle e mobilização massificada pretendidos: a imposição do consumismo como ideologia em substituição à consciência de classe. Que os usos do freudismo pela Psicologia serviu aos interesses do capitalismo corporativo para controlar e manipular “invisivelmente” as pessoas disseminando a crença – tomada hegemonicamente como verdade objetiva - no indivíduo isolado, mobilizado por crenças e opiniões próprias quando, antes, este encontra-se psíquicamente administrado e rotulado por sofisticados artefatos culturais.

Passam a enriquecer seu ponto de vista no próximo item do capítulo intitulado O Tema da Psicologia Revisto [The Subject Matter of Psychology Revisited]



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