quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ANTILEXtranz (7)

SEXTA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA

ESTÁSIMO SEGUNDO (Terceira manifestação do coro)

Coro de Fiéis/Cidadãos da Síria
As palavras de Antilex nos causam arrepios e nos amedrontam;
        Quais surpresas se ocultam na sombra lançada sobre os decendentes de Édipo?
                Repletas de intenções noturnas encontram-se as falas da princesa que é também príncipe;
A ambigüidade é típica dos seres andróginos!
Os segredos e a ocultação de sua genuina essência sexual também...
        O que leva um macho a querer tornar-se fêmea?
O que leva os homens a emascularem outros homens?
Qual magia leva as mulheres e os homens a se encantarem pelos eunucos?
        Quais poderes sobre nós têm os hermafroditas?    
Por que a androginia nos fascina tanto?
Antilex está correta em querer chorar seus irmãos mortos;
Caprus Creonte pensa como um sagaz estrategista bélico;
A tirania dos reis forja duras leis invocando-as em defesa do Estado;
                A Lei dos homens deve ser a lei dos deuses;
Antilex é devota de Dionísio por tradição mas rende louvores a Apolo;
Com Apolo ela pretende se entender;
Só Apolo pode fazer cessar a maldição que paira sobre o destino dos descendentes do rei Édipo - ou prorrogá-la indefinidamente...


SÉTIMA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA

EPISÓDIO SEGUNDO




        Luz sobre a porta da esquerda ao fundo do proscênio [Esquerda alta do palco]. Em sua camarinha a princesa Antilex está de joelhos aos pés da imagem de Apolo. Entram Fedra e Electra muito apressada(o)s pela porta.

Fedra
(Contendo a euforia) Princesa!

Electra
(Exultante de alegria) Príncipe!
        
         Antilex levanta-se e retira a mantilha que lhe cobre a cabeça.

Antilex
O que há de tão importante para que sejam interrompidas minhas preces a Apolo?
Fedra
Um enviado do seu tio o rei Caprus Creonte com uma jóia para servir-lhe de adorno durante as bodas...
Antilex
(Para Electra em tom fleumático) Receba a jóia em meu nome Electra e a traga para que possamos avaliá-la.

        Electra deixa a camarinha.

Fedra
O que respondeu Apolo Princesa?
Antilex
Há um modo de deter a maldição.
Fedra
Qual?
Antilex
Oferecer-me a ele em sacrifício para que poupe Yrma e os filhos que terá com Creonte. Só assim cessará a desdita e o infortúnio sobre nossa família. A maldição foi encomendada com sacrifício humano. Só uma oferenda de equivalente valor deterá a sombra.
Fedra
Fará isso Senhora?
Antilex
É meu dever fazê-lo, Fedra...
Fedra
Seremos imolados também, eu e os outros eunucos, com a senhora?
Antilex
Não será necessário. Mas precisarei muito de você e de Electra para concretizar o meu propósito macabro.
Fedra
De que modo senhora?
Antilex
Aguardemos o retorno de Electra com a jóia para que lhes possa expor os serviços que me devem prestar...

        Electra retorna com uma jóia sobre uma almofada de veludo vermelho.

Electra
(Deslumbrada) Veja princesa, é linda! Uma tiara em ouro branco – o  metal de sua preferência
Antilex
(Pegando a jóia) Traga o espelho Fedra. Quero ver como fica em mim...

        Antilex entrega a jóia a Electra. Fedra sai.

Electra
(Recebendo a tiara e colocando-a sobre a cabeça de Antilex) Deixe-me ajudá-la senhora... (Ajeitando-lhe os cabelos) Ficou deslumbrante... Um luxo!

        Fedra retorna empunhando um espelho que posiciona à frente do rosto de Antilex.

Fedra
Ficou-lhe muito bem, senhora...
Antilex
Fica bem em qualquer um que a use... (Para Electra) Quer experimentar Electra?
Electra
Posso?
Antilex
(Retirando a tiara da cabeça e entregando-a a Fedra) Ajude-a a colocar a tiara Fedra. Dá-me o espelho.

        Fedra passa-lhe o espelho e ajuda a colocar a tiara em Electra.

Fedra
É uma belíssima jóia...
Electra
Sim. De muito valor!
Antilex
Pena que será derretida e fundida na pira que eu mesma acenderei para incinerar a mim em nome dos restos mortais de meus irmãos lançados ao apetite das feras carniceiras para fazer cessar a maldição sobre nossa família.
Electra
(Horrorizada retirando rapidamente a tiara da cabeça) Deuses!
Antilex
(Para Fedra tomando a tiara das mãos de Electra) Quer experimentar também Fedra?
Fedra
Não senhora. Prefiro não fazê-lo.
Antilex
(Para Fedra) Coloque-a de volta sobre a almofada. Escutem-me as duas com atenção: Quero que levem a jóia ao mercado e a vendam em sigilo. (Pequena pausa) Com parte do dinheiro arrecadado contratem um carro puxado a dois cavalos e o mantenham na cocheira do palácio. Paguem o que for necessário para comprar o silêncio dos vigias. Digam que é para conduzir um poderoso amante de um dos eunucos do palácio cuja identidade o suposto sodomita não deseja que seja trazida a público. Providenciem também um traje masculino completo de cor negra, com adaga e turbante. E ainda água e pão suficientes para meu deslocamento até Istambul.
Electra
O que está pretendendo senhora?
Antilex
Logo saberão mais sobre o meu plano. Por enquanto Electra, quero que você diga ao emissário do rei meu tio que gostei do presente e que lhe peço encomendar lavanda de Florença para os banhos pré-nupciais. Que só após a chegada da essência de lavanda devem ter início os preparativos para a cerimônia de bodas. Entendeu?
Electra
(Paralizada dirigindo o olhar para Fedra) Sim senhora.
Antilex
Vá logo e faça o que lhe digo. O que está esperando?
Electra
(Apressando-se) Com sua licença princesa.
Antilex
Esta noite vou partir rumo a Istambul. Você deve usar uma de minhas burcas reais e fazer-se passar por mim – se for necessário...
Fedra
Tenho medo senhora.
Antilex
Confie em mim Fedra. É só não usar a voz para se comunicar quando estiver usando a burca...
Fedra
Mas e se o rei ordenar que eu use a voz?
Antilex
Não fará isso. É costume que as noivas permaneçam recolhidas até a cerimônia das bodas. Ninguém além de você e Electra devem saber dos meus planos.
Fedra
Nem Yrma.
Antilex
Yrma em nenhuma hipótese!

        Yrma adentra a camarinha seguida de eunucos que trazem um baú com tecidos.

Yrma
(Alegremente) Irmã, chegaram os tecidos para que possamos escolher as cores dos nossos trajes nupciais... (Mostrando-lhe a tiara em metal dourado que recebeu) Veja a jóia que Creonte me enviou? Não é linda?
Antilex
Sim. Em metal amarelo. Tem brilho quente, solar, muito próprio para acentuar sua jovialidade e energia.
Yrma
E a sua?

Antilex
(Para Fedra) Mostre-lhe Fedra.
Yrma
Ouro branco! O metal que você gosta...
Antilex
É de brilho frio, lunar. Conforme minha natureza andrógina...
Yrma
Vim para ouvir sua opinião na escolha do tecido do meu traje... (Pegando um tecido em tom adamascado laranja e verde) Que tal este?!
Antilex
Este tecido se confunde com o metal que você vai usar...
Yrma
Queria usar vermelho. Mas é a cor da primeira esposa...
Antilex
Use o branco que é próprio para as virgens e sobre o qual suas jóias douradas receberão destaque.
Fedra
Minha senhora tem razão Princesa Yrma. O branco lhe cairá muito bem... É símbolo da falta de mácula.
Yrma
Veja, existem dois tons de vermelho... Qual irá preferir?
Antilex
Se quiser usar vermelho também... escolha o tecido com o tom da sua preferência. Não faço objeção.
Yrma
Vou usar branco... Mas, e você, qual tom de vermelho vai escolher?
Antilex
(Fleumática) O mais escuro. Nele o metal branco se destaca mais...

Fedra
Excelente escolha senhora!
Yrma
Nosso tio foi muito bom para nós tomando-nos por esposas...
Antilex
A bondade quase nunca é desinteressada... Você gosta dele não é?
Yrma
Sim.
Antilex
Desejo-lhe que seja fértil e tenha muitos filhos... Que perpetue nosso sangue.
Yrma
Obrigado minha irmã. Agora já sei a cor do traje que vou usar. Preciso ir para escolher o tipo de amarração do tecido... Ah, antes de ir, onde estão os grampos que eram de minha mãe e que ficaram sob sua guarda? Quero usar um deles na amarração do tecido!
Antilex
(Para Fedra) Fedra, traga a caixa de relíquias!

        Fedra sai para buscar a caixa.

Antilex
Há dois pares de grampos que pertenceram á nossa mãe. Um em metal amarelo e outro em metal branco...

        Fedra retorna com a caixa.

Yrma
(Pegando os grampos dourados) O par dourado combina com a cor da tiara que Creonte me presenteou!
Antilex
(Tomando o par de grampos em metal branco) Usarei os grampos prateados... (Pausa) Os mesmos que nossa mãe tinha nas vestes quando foi encontrada morta e que foram utilizados por nosso pai para vazar os próprios olhos...
Yrma
Se quiser usamos, cada uma, um grampo do par dourado.
Antilex
Usarei o conjunto em metal branco.
Yrma
Por que invocar tão dolorosas lembranças no dia de nossas bodas?!
Antilex
(Manuseando o par de grampos prateados) Não temo a energia obscura concentrada nestes grampos... Não há como apagar o nosso passado. Nem fingir que uma sombra terrível foi lançada sobre nossa família...
Yrma
Você me assusta irmã...
Antilex
Não tema seu destino Yrma. Breve estaremos livres do infortúnio.
Yrma
Oh, sim... Estaremos. Graças à generosidade de nosso tio e senhor que nos tomou por esposas!
Antilex
Seremos livres, Yrma, pode acreditar. Apolo há de nos conceder alforria da maldição lançada sobre nossa família... Tenho rogado a ele sua clemência dia após dia
Yrma
(Para os eunucos que a acompanham) Meninas, vamos!

        Yrma retira-se acompanhada de seu séquito. Os eunucos levam o baú consigo e antes entregam o tecido vermelho para Fedra. Fedra entrega o tecido para Antilex. Antilex cobre-se com o tecido lançando-o energicamente sobre si a um só gesto após a saída de Yrma. Percussão.

        Escuro rápido.

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