quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA... (28)

Em A Mercantilização das Diferenças Pessoais [The Selling of Individual Differences] Holzman&Newman destacam que abordagens desconectadas das raízes históricas dos fenômenos que pretendem compreender não são única e exclusivamente típicas da Psicologia; que a ausência de contextualização dos fenômenos humanos perpassa toda a cultura da escolarização norte-americana - embora seja possível encontrar-se uma rica e fascinante literatura a respeito do entrelaçamento da Psicologia com eventos econômicos e políticos.

Relacionam dezenas de autores comprometidos com abordagens críticas ao psiquismo humano que permitem identificar os vínculos ideológicos e comprometimento econômico e político das práticas em psicologia social aplicadas a grande número de pessoas. Segundo o que essas abordagens conseguiram apurar há uma expansão das práticas de “testagem” do desempenho pessoal em tarefas artificialmente concebidas por psicólogos tendo por fim sua aplicação em “massa” em grupos cada vez maiores de pessoas – inicialmente na escolarização, logo a seguir no recrutamento e seleção de pessoal para trabalhar na indústria e posteriormente para o serviço militar.

Revelam que os testes de Binet&Simon foram inicialmente pensados para acompanhar a performance pessoal mas com o passar do tempo tornaram-se padronizados tendo em vista a demanda crescente por “previsibilidade” do desempenho em ocupações sociais várias particularmente no recrutamento de combatentes para servirem às forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.

A ressignificação dos testes para indentificar o quosciente de inteligência-QI de Binet levou ao questionamento da validade dos resultados obtidos a partir deste tipo de “testagem em massa” quando se constatou em pesquisas posteriores que os testes não se revelaram suficientes para prever o desempenho dos soldados durante as batalhas - o que teria levado os oficiais de alta patente a concluírem que homens com baixa escolarização tornavam-se melhores combatentes que os mais instruídos e com maior pontuação durante a “testagem” [‘men of slow mentality who have little education often make better soldiers in the end than those with more flashy minds who would probably rated higher’ (p. 88-89)].

Os autores explicam que o objetivo do item é destacar como a conjuntura de eventos históricos conduziu a Psicologia a colocar-se a serviço do Liberalismo fortalecendo a crença no desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico através da “glorificação da Ciência” - evidentemente para obter a expansão das vendas dos seus serviços especializados.

Concluem o item alertando para as implicações nefastas do uso da estatística na escolarização na medida em que esta reduz o entendimento das possibilidades do aprendizado ao desempenho das pessoas em tarefas muito específicas e anunciam que mais adiante farão uma discussão crítica das crenças no sucesso escolar com base em testes psicológicos “científicos” que foi interessadamente fortalecida pela teoria de Edward Lee Thorndike - congnominada corajosamente por Danzinger “Metafísica da Quantificação.”

Passam a apresentar o subitem que conclui sua exposição intitulado Consolidação do Modelo Psicológico [Solidifying the Psychological Paradigm].

O subitem é uma “amarração” da pletora de pensamentos sucitados pelas abordagens críticas (pós-modernistas) à Psicologia Científica e ao Pensamento Modernista que conduzem a duas importantes constatações:

(1) Para se afirmar cientificamente qualquer coisa sobre um “indivíduo” este necessitava ser considerado em comparação com outros - o que equivale dizer que o desempenho singular de um indivíduo deveria ser medido tomando-se por base o desempenho médio de outros; [9 ]

NOTA EM RODAPÉ [9]
Indivíduo – conceito que se aplica indistintamente a organismos de qualquer população de seres vivos (plantas, animais etc). Distingue-se de sujeito – termo utilizado para identificar o “indívíduo” entre a população de seres humanos. O indivíduo se comporta (um cachorro se comporta sem consciência a partir de condicionamento clássico ou automatização fundado em leis de estímulo-resposta); o sujeito interage (uma pessoa interage porque pode agir conscientemente ou não de modo adequado ou inadequado embora possa ter desempenho automatizado em deteminadas tarefas, como nas ações objetivando o treinamento em esportes de “alta performance”, por exemplo).

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