quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ERA UMA VEZ A PSICOLOGIA CIENTÍFICA (20 )

A segunda parte do livro é a mais extensa e subdivide-se em quatro capítulos que possuem, cada um, vários ítens e subítens.

Antecedendo-os encontra-se uma breve apresentação dos assuntos que serão abordados neste trecho da argumentação dos autores (4º ao 7º capítulos) intitulado A História desconhecida da Psicologia: O Estado e a Mente [Psychology’s Unheard-of Story: The Stade and the Mind].

Iniciam por nos revelar que um dos favoritos passatempos de muitos ilustres e conceituados psicólogos particularmente dos que se dedicam à clínica e psicoterapia é fazer piada dos diagnósticos; que são muito frequentes o aproveitamento humorístico de citações do 4º Manual para Diagnóstico e Estatística de Disturbios Mentais /DSM-IV da Associação Norte-Americana de Psiquiatria de 1994 [Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV] – um compêndio com centenas de categorias e subcategorias de doenças mentais considerado “bíblia” da Psicologia Clínica.

Citam a descrição “técnica” de algumas síndromes que em geral são motivo para boas gargalhadas, que cabem serem transcritas aqui:

Desordem Hipoativa do Desejo Sexual: Deficiência ou ausência de fantasias sexuais e de desejo pela prática de sexo;
Desordem Dissociativa Geral Não Específica: Respostas não objetivas a perguntas que não representem Fuga ou Amnésia Dissociativa;
Desordem de Expressão Escrita: Combinação de dificuldades na habilidade pessoal para responder a testes escritos evidenciada por erros gramaticais e de pontuação na redação de sentenças, organização do texto em parágrafos muito extensos, múltiplos erros de pronúncia e caligrafia pouco legível.

Explicam que o objetivo deles ao acentuar o absurdo de tais descrições técnicas no manual “oficial” de distúrbios mentais é a incapacidade do DSM-IV de contribuir para o trabalho rigoroso dos especialistas e denunciar que os especialistas que ousam recusar seguí-lo têm seus postos de trabalho ameaçados sob a alegação de que “sem diagnóstico, não ocorre liberação de verbas para o tratamento nem pesquisa” [No diagnosis, no reimbursement (p.58)]. E o que é ainda pior: que os próprios pacientes em geral exigem um “laudo” oficial sobre o que há de errado com eles, ou seja, desejam confiantemente serem diagnosticados.

Seu ponto de vista é o de que qualquer pessoa minimamente instruída ao examinar o DSM-IV pode constatar tratar-se de algo que desavergonhadamente se afirma como Ciência. Esclarecem que, repleto de inconsistências, o DSM-IV revela contradições, categorizações arbitrárias e normativo-prescritivas. E perguntam-se indignados como algo tão obviamente acientífico sob variados aspectos pôde converter-se em guia hegemônico para as práticas de Saúde Mental particulrmente nos Estados Unidos.

Esclarecem que sua intenção nesta segunda parte do livro será problematizar a institucionalização da Psicologia como “Ciência” e o impacto de sua influência “científica” sobre o imaginário das pessoas, de governos, serviços sociais e educativos, práticas bélicas e políticas; e de como a humanidade passou a considerá-la um “recurso legítimo” para o alcance de propósitos na administração e controle das práticas humanas e socioculturais.

Em resumo, afirmam que seu objetivo é trazer a público várias e pertinentes abordagens críticas pós-modernas que questionam a pretensão da Psicologia de se autodefinir como Ciência; que buscarão demonstrar como historicamente,  baseada na defesa de uma lógica da particularidade e do Eu, a Psicologia criou uma ontologia própria baseada em profecias autoconfirmadoras mascaradas por fundamentos pseudocientíficos.

Anunciam que nos capítulos da segunda parte do livro tratarão de alguns aspectos desta trajetória e sua repercussão sociocultural entendendo-a antes como uma “corrida para fazer mais dinheiro” do que como “uma inocente fábula ou mito.”

Seguem apresentando o quarto capítulo intitulado A Nova Ontologia e a Mitologia da Psicologia [The New Ontology and Psychology’s Mythology]

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