sábado, 5 de fevereiro de 2011

ANTILEXtranz (8)

OITAVA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA

ESTÁSIMO TERCEIRO (Quarta manifestação do coro)

O príncipe andrógino trama contestar o decreto do tio rei;
         Antilex ordenou vender a jóia nupcial para financiar sua viajem à Istambul;
                  A princesa transsexual seguirá para a Turquia travestida de homem sobre um carro puxado por dois corcéis na calada da noite;
A sombra lançada sobre os decendentes de Édipo ameaça estender-se sobre toda a Síria;
Veloz pelo deserto Antilex se deslocará com destemor protegida pela escuridão;
         Deve chegar em Istambul quando amanhecer e ainda for noite;
                  Na hora em que a manhã está mergulhada na noite;
Quando luz e sombra se fundem e confundem;
         Quando Apolo e Dionísio se encontram e dividem entre si o Poder;
Antilex vai ironicamente em busca da sombra para trazer luz...
         Será possível corrigir o rumo das gerações filhas do incesto?
Tememos o que não podemos conhecer;
         Maus pressentimentos invadem nosso peito.


NONA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA

TERCEIRO EPISÓDIO


         À frente da porta direita do proscênio [Direita alta do palco] Antilex, usando traje negro de beduíno, está de pé com um graveto fumegante em uma das mãos vestindo uma máscara trágica.

Máscara grega trágica
Antilex
Está feito... Quisera ter sido poupada de recolher os restos mortais em adiantado estado de putrefação dos meus irmãos queridos para incinerá-los... Estou impregnada de náusea em razão do cheiro da morte. Mas fiz o que deveria ter sido feito. (Seguindo em direção ao centro da extremidade anterior do proscênio próxima à orquestra) [Centro baixo do palco] Não haverá castigo para mim porque não permitirei ser julgada por Caprus Creonte nem por qualquer um. (Retira a máscara)

Maquiagem egípcia trágica

Antilex
Apenas os que são filhos de incesto podem genuinamente me compreender; e as gerações que vivem à sombra dos feitos luminosos de uns poucos realizadores; e os que tiveram a honra maculada ou a voz estancada à força pelo capricho de empreendedores ousados que têm em mente apenas o seu próprio bem-estar. (Recoloca a máscara percebendo que curiosos na orquestra pouco a pouco se aproximaram dela em quantidade cada vez maior. A eles se dirige) Nós, as vítimas de atos violentos e dos abusos do Poder queremos chorar a morte dos nossos queridos que tombaram em combate. Conclamo todos à reflexão!

         A imagem da escultura Reflexão de Auguste Rodin surge agigantada e inesperadamente encimando a porta central ao fundo do proscênio.



Reflexão 1886 – Auguste Rodin (1840-1917)
 
Antilex
Para que prosseguir em combate onde irmão bate-se contra irmão?! (Apontando com o graveto as cinzas fumegantes da fogueira em que foram incinerados os restos mortais de Polínicis e Antero) Vejam no que resultou a ambição do rei Caprus Creonte: carne da mesma carne dilacerada por um território que não é dos sírios, que não pertence à Síria nem ao Egito. A Síria não é do Egito! Não tem cabimento o povo sírio lutar entre si em defesa do expansionismo de Tebas! A ter que derramar o sangue sírio em benefício do Egito é preferível deixá-lo escorrer na luta pela libertação da Síria das garras e tirania de Tebas representada por Caprus Creonte. Voltemos para Ancara unidos, com ímpeto semelhante ao dos mártires turcos que, em nome de Alah, sacrificam-se a si mesmos em ações isoladas e suicidas! O retorno das falanges sírias combatentes em Istambul à Ancara explodirá uma bomba que lançará por terra todas as colunas do palácio imperial e dará por encerrado o julgo do Egito sobre a Síria. Sigamos sob a luz do dia sem temor. O rei está ocupado com os preparativos de suas bodas com as princesas de Tebas e não terá tempo de organizar um contra-ataque ao povo sírio rebelado. Chegou a hora de dizer não aos abusos de poder e intolerância de Caprus Creonte. A tomada de Istambul nada acrescenta a gente da Síria. Apenas satisfaz a vaidade pessoal do tirano faraó do Egito e seu apetite insaciável pelo acúmulo de bens. Não há justa distribuição de renda nem partilha dos lucros auferidos com a conquista de novos mercados. Em vez de lutarmos irmão contra irmão em nome da ampliação das fronteiras do Império egípcio, lutemos contra Tebas!
Combatentes curiosos
Voltemos sem demora à Ancara!
Lutemos pela libertação da Síria e pela expulsão do rei de Tebas!
Fora Caprus Creonte!
Fora!
Fora o tirano de Tebas!
        Abaixo o imperialismo egípcio!

Os combatentes sírios em Istambul seguem em direção à Ancara resolutos a expulsarem Caprus Creonte. A imagem da escultura de Rodin esmaece até desaparecer. Luz recorta-se sobre Antilex.

Antilex
(Retirando lentamente a máscara) Poderoso Apolo! (Roga aos céus) Peço-lhe concender-me algum tempo... Só até o anoitecer, para que eu possa concretizar o prometido. Em Ancara, nesta mesma hora em que ainda é noite e simultaneamente dia, prometo-lhe que, ao raiar do sol, meu corpo diluído em fumaça subirá aos céus para louvá-lo. Agindo deste modo espero que a minha irmã e sua prole fiquem livres da maldição encomendada a ti por Pélope. Esta é a minha promessa. Creio no seu grande poder porque o destino infleliz de minha família é prova incontestável de sua força colossal. A minha oferta equivale ao sacrifício a ti oferecido por Pélope. Ele deu-lhe o corpo do próprio filho, Crisipo. A ti, ofertarei o meu corpo. Salve Apolo, deus-Sol todo poderoso, dissipador das sombras... Iluminai de agora em diante, numa pletora de alegria, e para sempre, os caminhos de minha irmã e dos seus filhos. É o que vos peço confiante, amém! (Recoloca a
máscara e retira-se rapidamente). Percussão e escuro lento sobre o vazio cênico.

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