sexta-feira, 1 de abril de 2011

JACI




Como criança
ansiosa por entrar em cena
meteu a cara rasgando uma fenda
na cortina azulada em negrito da abóbada celeste

Não havia estrela alguma à vista

Sua face límpida arredondada larga e alva
de brilho incandescente
revelou olhos curiosamente arregalados
para o mundo do qual era prisioneira em órbita
por irresistível atração

Nada disse

Guardou para si
as impressões do que percebeu naquele instante
e logo abriu
 majestosa e veladamente
 um denso leque de fumaça
cor de chumbo
para dissolver-se no silêncio das nuvens

Impassível desapareceu altiva sem dar as costas
por entre a obscura coxia sideral
retornando às sombras abissais do infinito cósmico
como lágrima evaporada que não deixa rastro

 O privilégio de crer por um momento
na lunática visão noturna
deu-me um gosto incontido e volátil de sal
que me secou a boca

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