quinta-feira, 7 de abril de 2011

PSICOLOGIA DA ATUAÇÃO TEATRAL (2)

NOTA INTRODUTÓRIA

O texto apresentado a seguir é uma versão minha de um artigo atribuído a Liev Semienovich Vigotskii (1896-1934) traduzido para o italiano por Claudia Lasorsa. A atualidade do documento no qual me baseio e sua importância acadêmica no âmbito das Artes, da Educação e Psicologia dispensa qualquer justificativa. Isso em razão da disseminação das idéias de Vigotskii no continente europeu e nas Américas ter alcançado grande repercussão. Mas em razão dos filtros das várias traduções para o Português muito do seu pensamento original acabou se tornando obscuro e hermético para os que iniciam estudos nas áreas acima mencionadas.

Pode-se afirmar, sem receio, que o documento atribuído a Vigotskii converteu-se em referência bibliográfica obrigatória em TCCs, dissertações e teses em processo de qualificação e defesa na graduação e em todos os programas de pós-graduação lato e stricto sensu em Artes, Educação e Psicologia que buscam compreender mais - e melhor - as complexas relações e interrelações entre as Artes Cênicas/Teatro e a Educação à luz da Psicologia Histórico-Cultural na contemporaneidade.

Para muitos, o que caracteriza uma versão ou tradução livre é a falta de rigor quanto ao uso de palavras efetivamente empregadas no texto original por um autor. Mas, ao traduzir-se um enunciado discursivo, de uma língua para outra, não resultaria muito tímido - e simultaneamente arrogante - qualquer empreendimento que pretendesse declarar-se supostamente “fiel” aos vocábulos utilizados originalmente pelo autor ou julgar haver um “único” e supostamtente “correto” significado original para suas palavras?


Existem estruturas semânticas enunciativas que alteram drasticamente a argumentação desenvolvida por um autor quando se opta por uma tradução delas, digamos, “palavra por palavra” – observe neste sentido o resultado que se pode conseguir ao serem acionados os agentes artificiais tradutores de texto amplamente disponibilizados na Internet. Imagine-se então o efeito em cascata das traduções de traduções sobre o sentido dos enunciados...

A tradução livre, ou melhor a versão, apresentada aqui, não renuncia à atividade (re)criadora de sentido por parte do tradutor/intérprete. O que faço a seguir é dialogar com as idéias defendidas por Vigotskii no texto, conforme as compreendi, apresentando-as de modo co-autorizado.

Aos familiarizados com os conceitos pedagógicos não será difícil entender a versão como “transposição didática” de conteúdos complexos e densos, como procedimento recomendado para o ensino expositivo seja no âmbito da educação regular, continuada ou à distância - que é reivindicado por um tipo de pedagogia em geral consignada como crítico-social dos conteúdos.

Qualquer eventual incompreensão durante a exposição do pensamento genuíno do autor deve ser creditada exclusivamente ao docente responsável pela versão/transposição didática. Recomendo a leitura do texto em italiano e russo a todos os que não enfrentam qualquer dificuldade para a decodificação da escrita nestes idiomas.

As traduções inglesas de outros textos de Vigotskii a que tive acesso não me pareceram tão próximas do seu pensamento quanto as traduções espanholas e italianas – línguas derivadas do tronco liguístico latino.

A presente versão destina-se atender à demanda de estudantes que falam e pensam em português. Dizem que só é possível filosofar em Alemão, e isso não se fala à toa. Para mim, confesso humildemente, o único filósofo d’além mar que eu acredito compreender um pouco é Baruch (Bento) de Espinosa - e creio que o mesmo pode ser extensivo a outros membros da comunidade de letrados em língua portuguesa. Talvez a compreensão mais fácil das idéias de Espinosa se deva ao fato de ele escrever em alemão e holandês mas pensar em português, em razão de suas orígens lusitanas. Curioso Vigotskii mencionar Espinosa e suas idéias como rizoma para exposição dos fundamentos de sua teoria filosófica da atividade do psiquismo humano, além de Hegel e Marx.

Seja pelo fato de o idioma russo ter sido criado de modo planificado e muito recentemente em relação às línguas clássicas faladas na Europa ou ainda por que na Russia comunicava-se e escrevia-se durante muito tempo em francês e alemão até que se desse a criação do alfabeto russo fundindo contribuições do grego e outras línguas muito antigas do oriente, na tentativa de unificação dos diferentes povos asiáticos e europeus concentrados naquela região intercontinental do planeta, a impressão que se tem é a de que Vigotskii parece pensar em português...

Por último sinto-me no dever de advertir os interessados no assunto que um leitura que considero complementar obrigatória para o entendimento genuíno do documento objeto da versão apresentada aqui é Método da Economia Política de Karl Marx. Sem uma aproximação através das lentes da filosofia do materialismo histórico-dialético não se sustenta e se desfaz, como um castelo de areia ao ser atingido pela mais tênue marola, toda a belíssima construção das idéias de Vigotskii.

Uma outra leitura que julgo complementar optativa é a de livros sobre a história das Artes e do Teatro que focalizam o período pre e pós-revoucionário na Russia. Vigotskii escreve colocando-se em meio as discussões inflamadas que ocorriam neste período riquíssimo da criatividade artística naquela parte do planeta. Eram aqueles anos tomados pelo que se convencionou denominar de uma espécie de modismo: a “teatromania”.

Aliás, é importante revelar também que, antes de Vigotskii se dedicar à colaboração da psicologia marxista, seu interesse concentrava-se na problemática das Artes como revela sua monografia de graduação Psicologia da Arte [que prefiro referir por Psicologia das Artes] escrita apenas aos 17 anos, bem como sua atividade na animação de círculos de discussão sobre o assunto em Gomel, quando atuava ainda como professor simpatizante das idéias de Dewey e da educação ativa - mais conhecida no Brasil por escolanovismo - e era o coordenador da Seção de Teatro do Departamento de Educação Popular assinando a coluna dedicada ao assunto no jornal local Polesskaja Pravda.

Só me resta lhes desejar boas leituras!

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