quinta-feira, 14 de abril de 2011

PSICOLOGIA DA ATUAÇÃO TEATRAL (3)

SOBRE A PSICOLOGIA DA PERFORMANCE OU ATUAÇÃO TEATRAL

A questão da psicologia da atuação ou performance e da criação teatral é em si mesma, curiosamente, um problema antigo e absolutamente atual.

Se por um lado nunca existiu, pelo que sei, uma abordagem suficientemente notável deste aspecto da criatividade humana, por outro lado, nenhum diretor ou crítico teatral, nenhuma pessoa de teatro de modo geral, de maneira alguma, há se perguntado sobre isso ou posto sua atividade prática, seu discurso, seus ensinamentos nem seu juizo ou concepções sobre o assunto a serviço da discussão e elucidação deste importante aspecto da psicologia: a atuação ou performance teatral.

Algumas personalidades do Teatro no entanto criaram sistemas extraordinariamente complexos para enunciação/encenação de textos dramáticos - que tiveram grande repercussão e lhes renderam elogios por sua autoria, sem que aspirassem mais do que os louros da originalidade ou que de modo algum renunciassem aos cânones de seus estilos e maneirismos, como é o caso, por exemplo, do Sistema de Stanislavskii, cuja completa elaboração teórica e de ensino ainda não podemos dispor totalmente. Ninguem até hoje genuinamente se dedicou com desassombro a discutir esse problema ou pode iluminar a questão da aplicação e funcionamento da psicologia da atuação ou performance teatral de modo suficiente.

Se conseguimos retroceder à gênese do problema da psicologia da performance e da criação teatral, voltaremos longe no tempo e constataremos quão grande, complexa e difícil tem sido a abordagem desta questão ao longo dos séculos. Essa problemática ocupou de diferentes modos as mentes dos mais notáveis representantes das artes cênicas mas o seu principal fundamento foi indiscutivelmente assentado pelo célebre PARADOXO DO ATOR de Diderot, o qual já prenuncia de modo substancial a complexidade da questão. Os que vieram depois dele apenas fizeram tímidas contribuições sem acrescentarem nada de absolutamente novo ao problema.

Se há algo de fundamental na problemática da criatividade subjacente à atuação ou performance teatral isso só poderá ser revelado quando sua abordagem ocorrer a partir do reconhecimento das origens sócioculturais e das bases materialistas históricas e dialéticas do psiquismo humano. Só assim poderá ser revelado o vigor e o frescor da criatividade durante a atuação teatral - que causa tanto espanto e admiração à compreensão ingênua deste intrigante fenômeno psicológico.

Seguramente o problema da performance teatral, não obstante todas as diferenças entre as interpretações existentes deste fenômeno mantêm como “caroço” [hardcore/núcleo duro] da questão o paradoxo existente na ocasião da expressão da emoção do atuante. Por outro lado, em tempos mais recentes, esta problemática densa tem sido penetrada através de pesquisas de outro gênero.

As novas indagações a respeito do problema começaram a inserir a profissionalização da atuação teatral no campo da psicologia social colocando em primeiro plano o trabalho formativo para a performance teatral por parte dos responsáveis pela profissionalização deste tipo de atividade.

A discussão resume-se ao bate-boca sobre o que ocorre na performance ou atuação teatral: se ela resulta de alguma qualidade psíquica geral deste fenômeno ou justifica-se pelo “talento” pessoal.

No intuito de se garantir ou prever algum sucesso profissional do sujeito no campo desta atividade artística criaram-se vários testes de aptidão para avaliar a imaginação criadora, a motricidade, a memória verbal, a excitabilidade do sujeito - muito semelhantes à psicometria aplicada para seleção de candidatos em qualquer outra atividade técnicoprofissional, ou seja, segundo a “medição” das habilidades pessoais requeridas para o desempenho satisfatório de uma função, como em qualquer outra área de trabalho.

Para os representantes desta corrente da psicologia os sujeitos que apresentam os “melhores” índices de desempenho nestes testes seriam os que possuem “vocação” para este tipo de performance.

Apenas muito recentemente nota-se uma tentativa de superar os limites e defeitos de cada uma destas abordagens ao fenômeno da atuação teatral - que desperta nosso interesse por colocar essa questão de um novo e surpreendente modo.

Este novo modo é o que usaremos para abordar a problemática da psicologia da atuação ou performance teatral, quer dizer, como algo ainda desconhecido e que quase nunca foi até agora, satisfatoriamente, estudado por ninguém.

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