quinta-feira, 2 de junho de 2011

PEDAGOGIA INSUBMISSA




PEDAGOGIA INSUBMISSA
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A Pedagogia distingue-se da Educação; eleva-se sobre ela por ser sua Teoria. É preciso ter clareza quanto a isso.

A Educação e sua Teoria - a Pedagogia - localizam-se no território das Ciências Sociais Aplicadas, largo campo no continente das Ciências Humanas ou Filosóficas.

Outra distinção necessária se faz entre os conceitos de Educação   (estudo dos processos de desenvolvimento afetivointelectual dos modos de ser e pensar tipicamente humanos) e Escolarização (organização sistemática do aprendizadoensinado).  

Os sistemas educacionais de ensino geralmente são forjados por políticas de Estado que buscam amparo em saberes acerca das ações educativas e seus impactos na formação social das pessoas.

A falta de precisão no uso corrente destes termos gera dificuldades para compreensão genuína das especificidades das questões educativas, educacionais e pedagógicas.

Não é difícil admitir-se o desconforto e mal-estar do juízo moral autônomo da Pedagogia (Teoria da Educação) quando esta torna-se refém de políticas educacionais de Estado baseadas hegemonicamente em uma moralidade heterônoma.

Afirmo o que digo aqui investido da autoridade pedagógica no exercício do magistério público conquistada por mérito, institucionalmente legitimado pela concessão do diploma de Doutor em Educação e Psicologia pela Universidade de São Paulo; também pelas prerrogativas da cátedra que ocupo em professar doxa.

Tentarei recorrer a um modo de expressão escrita do meu pensamento menos acadêmico ou “elegante” acerca das inter-relações, nem sempre amistosas, entre Pedagogia e Políticas Educacionais.

O duelo entre Pedagogia e Políticas Educacionais pode ser ilustrado exemplarmente pelo recente “veto” ao “kit gay” por parte do atual Governo brasileiro. Este episódio escandaliza o pensamento pedagógico laico por afrontar sem pudor as prerrogativas de sua autonomia intelectual, pretendendo submetê-la à vontade de interesses econômicos inconfessáveis amalgamados à doutrinação ortodoxa de princípios seculares. Algo que merece atenção e destrinça pelos diferentes grupos sociais enredados pela escolarização nacional.

Dado o corte cerce à problemática emergente sob a peremptória alegação de o material didático disponibilizado pelo MEC, para abordar questões referentes às preferências por práticas sexuais extra-heteronormativas na escolarização básica, ser publicidade de conduta “inadequada” – apelidado pelo cinismo sexista heteronormativo de “kit gay” - resta o silêncio à Pedagogia?

Ao afirmar que o material é “propaganda de orientação sexual”, o Governo despudoradamente amordaça a Pedagogia sufocando-a por uma política educacional, intolerante e tosca, amparada em uma moralidade heterônoma que ignora e desqualifica, sem argumentação serena e convincente, os saberes de uma Educação comprometida com a garantia dos direitos humanos universais.

É inaceitável, nos regimes genuinamente democráticos, que a escolarização LAICA – direito do cidadão e dever do Estado – seja confundida com a escolarização confessional ou secular de orientação predominantemente judaico-cristã.

Não existem impedimentos legais para a organização seriada confessional ou secular segundo qualquer orientação religiosa. Inúmeras organizações privadas de ensino com orientação evangélica, judaica, mulçumana, católica, umbandista, espírita, étnico-mágico-religiosa são certificadas e recebem apoio técnico e informacional do MEC.

Não cabe à escolarização nacional, do ponto de vista da Pedagogia, submeter impositivamente a todo e qualquer grupo social os mesmos valores, crenças, modos de viver e pensar quando os sistemas de organização do aprendizadoensinado apresentam-se multiculturalmente impactados na contemporaneidade. 

A Pedagogia "em si" e "para si" admite, valoriza e interessa-se em conhecer organizações alternativas de sistemas de ensino como as dos modelos alternativos ao regime seriado transnacionalizado e hegemonicamente vigente. Ela não defende nem impõe limites à pesquisa e experimentação de propostas pedagógicas nem pode submeter-se às políticas educacionais provisórias de governos ou a exigências do dogmatismo religioso de qualquer crença.
Seria o mesmo que buscar amparo da Ciência para estabelecer o Criacionismo como única hipótese válida para explicar a origem da vida no planeta.


Não se revela para o público, honestamente e sem temor, o nível da escolarização (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio ou Superior?) à qual se destina o “polêmico” material pedagógico tampouco fica claro para os pais ou cuidadores dos escolares os modos adequados ou orientações “didáticas” para uso do artefato cultural (material pedagógico) concebido pelo MEC para abordar desassombradamente tema polêmico gerador de conhecimentos acerca da vida afetivossexual da humanidade.

É absurdo julgar que a Pedagogia opte por um único modelo de organização do aprendizadoensinado como é o caso da organização seriada de ensino, por exemplo.


Por favor, utilizemos justificativas menos ingênuas na defesa dos nossos pontos de vista. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com as práticas pedagógicas sabe que um discurso de Hiltler, Bin Laden, Gandi,  Mandela, Fidel Castro ou Chaplin pode ser usado, dependendo dos objetivos didáticos a serem alcançados, para ratificar acriticamente seus pontos de vista ou de(s)construí-los e desqualificá-los crítica e convincentemente.

O “veto” ao “kit gay” assemelha-se à uma revoada conativa irrefletida, apavorante e mal-agourenta de corvos que prenuncia a devastação das garantias das liberdades singulares das expressões identitárias do Ser pelo “coito” abjeto entre Estado e Religião.

Algo que nos faz lembrar o obscurantismo promovido pelo índex da Santa Inquisição no qual foram inscritos os nomes de Aristóteles, Galileu e outros pensadores em nome da manutenção de semblantes e cadeias de significações úteis na “disciplinarização” dos modos de ser e pensar dos prosélitos do Cristianismo. 

A proibição do uso e a recolha do material pedagógico do MEC é um desserviço à colaboração de novos conhecimentos, um atentado aterrorizante à defesa da moralidade autônoma e da tolerância às diferenças culturais que preocupa por assemelhar-se às práticas obscurantistas, autoritárias e abomináveis do hitlerismo, stalinismo, varguismo, castrismo, macartismo, peronismo, pinochetismo, aiatolaísmo, talibãnismo, kadhafismo, chavismo...

Não se pode esconder o sol com peneira tampouco deter a  colaboração de novos conhecimentos ou a marcha histórica do desenvolvimento sociocultural da humanidade.

Pensemos desaçodadamente nisso.





2 comentários:

  1. MANIFESTO EM




    REPÚDIO AO FECHAMENTO DO




    TEATRO DE DANÇA




    (São Paulo)

    A DANÇA, aqui representada pelos profissionais, intérpretes, coreógrafos, professores, produtores, pesquisadores, diretores de companhias, cooperativas, universidades, movimentos e coletivos organizados, trabalhadores da cultura do estado de São Paulo, REPUDIAM A DECISÃO AUTORITÁRIA do Governo do Estado de São Paulo, Sr. Geraldo Alckmin que, junto ao Secretário do Estado da Cultura, Sr. Andrea Matarazzo, ENCERRAM de forma arbitrária as atividades desenvolvidas no TEATRO DE DANÇA.
    Ambos, Alckmin e Matarazzo, desconhecem e desrespeitam o legado histórico e artístico deste espaço cênico. Ambos não sabem que a produção, circulação e fruição dos bens culturais é um direito constitucional, e têm que ser preservados. Desconhecem as necessidades e especificidades da DANÇA, tanto quanto dos demais segmentos – circo, teatro, música, literatura, poesia, cinema, dentre outros.
    Não sabem que todas as manifestações necessitam ser contempladas numa visão, além do mundo artístico-cultural, e principalmente, distante da política de eventos, política que se instaurou no estado de São Paulo nos últimos 20 anos, à revelia dos artistas e da sociedade.
    A classe artística indignada com o fechamento do TEATRO DE DANÇA reivindica a sua manutenção !
    Reivindica a participação plena da sociedade nos processos decisórios das políticas públicas voltadas à cultura.

    Assinem o abaixo assinado através do link
    http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N10308

    Sandro Borelli

    PRESIDENTE DA COOPERATIVA PAULISTA DE DANÇA

    www.coopdanca.com.br

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  2. ADUNEB-Mail 2011 - Especial da GREVE- Edição 392 (03/06/11)

    Governo rejeita proposta do movimento sem qualquer discussão com categoria

    Mais uma vez, em contraposição à flexibilidade e à disposição do movimento em negociar, o governo responde com intransigência à nova proposta da categoria. Na tarde de ontem, 02 de junho, o governo, através da CODES, afirmou, por email, que a proposta “não é aceitável para reabertura do processo de negociação, pois, a tabela apresentada e a proposta de agendamento de reunião prévia, entre outros pontos, já foram objeto de discussões anteriores, não gerando, portanto, fatos novos, justificadores de nova rodada.”

    Diferente do afirmado pelo governo, a proposta enviada pelo Fórum das ADs, no dia 01 de junho (veja aqui), é diferente do discutido até então nas mesas de negociação. O documento propõe a redução do prazo de vigência do Acordo para 02 anos e diminuição do prazo de incorporação da CET para 03 anos. No entanto, o governo sequer se disponibilizou a discutir, em reunião com o movimento, a totalidade da proposta, mantendo suspensas as negociações.

    Ocupação continua diante da Intransigência do Governo

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