SEGUNDA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA
Luz sobre densa mata atlântica. Um grupo de mulheres tupinambá está reunido à beira de uma lagoa onde há algumas vitórias régias. Jacira carrega uma criança recém-nascida do sexo feminino ao peito.
Maisa Ubirajara
Tenha fé Cira! ‘Credita em Jaci. Ela vai levar a menina pras amazona criar... Vamo só esperar ela fazê Tupã dormir pro dia virá noite...
Jacira
Tô cum dó de deixar a menina sozinha boiando na água em cima da flor... De aparecer um jacaré-açu e comer ela...
Maisa Ubirajara
Tu sabe que a tradição é essa... A menina é tua cria mas foi feita contra tua vontade pel’aquele anhaguera branco que te pegou e deixou a semente dele a força dentro d’ocê!
Jacira
A menina num tem curpa... Num pediu pra nascê! É toda perfeita a bichinha...
Maisa Ubirajara
Tu sabe o destino de fia cabocla... Deve de ser dada pra Jaci criar forte como pedra, como uma itajaci... Tenha fé que Nãn’Iara vai levar a menina a salvo pras amazona de Jaci criar e ensinar ela a defender a floresta dos anhangüera branco!
Jacira
Mas tem outras criança cabocla sendo criada na tribo com nóis...
Maisa Ubirajara
São outras qualidade de caboclo. Os pai branco num fizeram eles a força. Fizero com consentimento das mãe da floresta... O destino da criança que ocê pariu é ser cabocla guerreira encantada e vingar a violênça do pai – matador das mata...
Jacira
Num quero lembrar daquele coisa ruim... Das surra que me deu toda vez qu’eu tentava fugir e voltar pras mata...
Maisa Ubirajara
Toma logo toda esta porção de ipadu! Já tá chegando a hora de botar a criança na flor... (Jacira bebe de um só gole o chá de ipadu) O dia tá começando a virar noite... Anda, me dá a criança p’reu oferecer a Jaci... (Jacira expressa com a face o amargor do chá de ipadu e entrega-lhe o bebê) Trouxe as arma dela?
Jacira
Tá com Cema! (Para Iracema) Cema?! Cadê as uamiri [flechas] de Itajaci?
Iracema
(Entregando-lhe a zarabatana e as flechas) T’aqui!
Maisa Ubirajara
(Acomodando a criança em uma vitória régia) Vai ‘Tajaci... Segue teu caminho... (Colocando a zarabatana e as uamiri na flor ao lado da criança) Leva contigo tuas uamiri pra defender a floresta dos anhagüera branco...
Escurecimento lento incompleto. Maisa Ubirajara puxa uma cantiga sagrada entoada em coro por Jacira e Iracema enquanto empurra suavemente a criança sobre uma grande vitória régia nas águas calmas da lagoa. Retorna às margens da lagoa dourada onde estão Jacira e Iracema.
Maisa Ubirajara
Vem, vamo se escondê... Cês vão ver Ela...
Jacira e Iracema seguem Maisa Ubirajara e se abaixam atrás de um arbusto. Duas ondinas emergem das águas da lagoa e olham em volta para ver se há testemunhas de sua aparição. Recolhem a vitória régia com a criança e a levam para o centro do lago. Luz azulada com efeitos de magia. Sons de animais noturnos e pássaros exóticos.
Maisa Ubirajara
(Cochicando) Agora... Espia! Lá vem Ela... Nãn’Iara vai ninar a criança... Vai levar tua fia lá pra terceira marge dos rio... ‘Adonde veve escondida as amazona...
Uma sombra de mulher agiganta-se emergindo do meio do lago e caminha suavemente sobre as águas até a vitória régia carregada como bandeja pelas duas ondinas. Acolhe a criança acarinhando-a e volta as costas para a margem onde se encontram escondidas as mulheres tupinambá. Segue para o fundo desaparecendo entre as brumas. A luz solar volta a incidir forte vindo da direção para onde se dirige Nãn’Iara com a criança e as ondinas. A luminosidade incandesce e turva a visão das mulheres tupinambá e do publico. Escuro rápido.
TERCEIRA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA
Luz sobre a terceira margem do rio - terra das amazonas. Maúra, a cacique da tribo, recebe a criança adormecida sobre uma vitória régia que é trazida do lago por duas guerreiras amazonas.
Primeira Amazona
Chegou mais uma...
Segunda Amazona
Veio com uamiri
Mostram a criança para a cacique.
Maúra Cacique
(Pegando a zarabatana e as uamiri de Itajaci) Mandaro desta vez uamiri pra defender as mata...
Primeira Amazona
Com quem deixo a menina, Maúra Cacique?
Maúra Cacique
Fica com Zuleika. Inté desmamar... Depois confia ela pra Jandira criar. Pra ensinar uso das uamiri. (Para Segunda Amazona entregando-lhe a zarabatana com as uamiri de Itajaci) Põe [a zarabatana] na boca dela pra ela já ir se acostumando com as arma que vai usar.
Segunda Amazona
(Balbuciando ternamente coloca a zarabatana na boca da criança) Toma teu peito, uamiri!
Maúra Cacique
Nada de dengo... Num quero menina seno mimada aqui não. Vamo, vamo, vamo!
Soa o alujá de Xangô. Escurecimento lento. Luz na casa de Pai Hélio.
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