OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE – Procedimento metodológico ou método?
A escolha do paradigma histórico-cultural do desenvolvimento como âncora das abordagens qualitativas às questões educacionais, encontra no método etnográfico, inicialmente utilizado pela Antropologia e Sociologia, os fundamentos para seus procedimentos investigatórios.[1]
A partir da observação etnográfica é possível abordar, de forma qualitativa, fenômenos pedagógicos emergentes nos processos do aprendizadoensinado.
O uso da etnografia caracteriza a pesquisa em Educação preocupada com a contextualização das inter-relações entre ensino e aprendizado, ou seja, em considerar significante o contexto cultural no qual se inscrevem as intervenções educativas propostas.[2]
Uma das implicações operacionais dessa concepção de pesquisa - que incide sobre seus procedimentos metodológicos - é a disponibilidade do pesquisador para rever a definição de hipóteses iniciais, redescobrindo o problema em ação, imerso no ambiente investigado.
A abertura para descoberta de novas possibilidades de formulação do problema, a partir dos dados emergentes com a pesquisa à medida em que se desenvolve a intervenção investigativa planificada, não implica descartar a existência de critérios para sua execução. É o caso, por exemplo, do tempo mínimo para o trabalho que deve ser compatível com a periodização dos eventos acompanhados;[3] outra exigência é a presença física do pesquisador e sua equipe nos ambientes em que ocorrem os eventos objetos de estudo.[4]
Atendidas estas exigências, a pesquisa poderá recorrer à observação participante como procedimento metodológico para registro das interações no grupo acompanhado.
A colaboração de dados nas observações participantes pode ocorrer valendo-se de recursos como fotografias, audiovideorregistros, questionários, surveys, entrevistas dirigidas, semidirigidas, não dirigidas e consulta a documentos de variadas fontes acerca do evento focalizado.
O método etnográfico de pesquisa pressupõe a participação interativa do pesquisador ou sua imersão nos grupos em que ocorrem os eventos a serem observados ao longo de, basicamente, três etapas: exploração, decisão e descoberta.
A fase exploratória é o estudo preliminar do ambiente no qual o trabalho será desenvolvido; a etapa decisória ocorre com a formatação da intervenção proposta; já o período das descobertas perpassa o empreendimento investigatório desde sua concepção, planificação e execução intensificando-se com a metacognição e discussão “distanciada” ou crítica dos fenômenos que emergiram durante os eventos acompanhados.
Nas pesquisas em Ciências Sociais Aplicadas particularmente na Educação a Observação Etnográfica (o método etnográfico de pesquisa) denomina-se Observação Participante, Pesquisa Participante ou também Pesquisa-Ação.[5] Alguns estudos em Metodologia da Pesquisa buscam estabelecer a demarcação de fronteiras entre as especificidades da Pesquisa Participante e da Pesquisa-Ação.[6]
Coloco-me ao lado dos que advogam a distinção por entender que suas especificidades se justificam quando as entendemos como MÉTODOS diferenciados de pesquisa - embora fundamentados nos mesmos pré-requisitos da Etnografia.
A Observação Participante diferencia-se da Pesquisa-Ação por revelar-se sem dissimulação, e comprometer-se com a sistematização e apresentação dos resultados colaborados em formas instituídas aceitáveis – o que pode ser absolutamente prescindindo pela radicalidade da Pesquisa-ação.[7]
Considerados seus limites como MÉTODO, a Observação Participante ou Pesquisa Participante afirma-se como possibilidade de estudo sociocultural rigoroso de ocorrências intesubjetivas várias que teve início com as ações desenvolvidas pela Escola de Chicago de Pesquisa Social voltadas inicialmente para compreender a criminalidade e a delinquência, conflitos étnico-culturais e urbanocotidianos na Chicago dos anos 1920 a 1930 sob a liderança de Robert Park.
Enriquecida pela adequação da teoria crítica da Escola de Frankfurt às contribuições do pensamento pós-modernista de Foucault, Maffesoli, Smith entre outros, e fortemente impactada pelos resultados obtidos com pesquisas contemporâneas em Psicologia Cultural orientadas pelo Socioculturalismo a Observação Participante interessa-se por valorizar o interacionismo nas relações negociadas que perpassam a colaboração de interpretações e narrativas a respeito dos eventos observados.[8]
Como PROCEDIMENTO METODOLÓGICO a observação participante resume-se a uma técnica para “coleta de dados”, que pode ser útil tanto às abordagens “objetivas”, sem qualquer compromisso em destacar a natureza humana ou interpretativa dos resultados por elas obtidos quanto às que pressupõem densos processos de “subjetivação”.[9]
[1]GÓES, Mª Cecília R. de & SMOLKA, Ana Luisa B. (Orgs.) (1993) A linguagem e o
outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas:
Papirus, pp. 9-13.
[2]ANDRÉ, Marli E. D. A. & LÜDKE, Menga (Orgs.) (1986). Pesquisa em educação:
abordagens qualitativas. São Paulo: Pedagógica e Universitária, p.p. 13-17.
[3]WOLCOTT apud ANDRÉ, Marli E. D. A. & LÜDKE, Menga (Orgs.) (1986). Pesquisa
em educação: abordagens qualitativas. São Paulo:Pedagógica e Universitária,
p. 14.
[4]FIRESTONE & DAWSON apud ANDRÉ, Marli E. D. A. & LÜDKE, Menga (Orgs.)
(1986). Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo:
Pedagógica e Universitária, p.14.
[5]MARTINS, João Batista. Observação participante: uma abordagem metodológica para a
psicologia escolar. In Seminário de Ciências Sociais e Humanas. Londrina:
psicologia escolar. In Seminário de Ciências Sociais e Humanas. Londrina:
Universidade Estadual de Londrina, vol.17, n.3, p. 266-273.
[6]THIOLLENT, M. “Notas para o debate sobre a pesquisa-ação”. In: BRANDÃO, Carlos
R.(Org.) Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1884, p.
82-103.
[7] BARBIER, René (2002). A teorização, a avaliação e a publicação dos resultados. In
BARBIER, René. A pesquisa-ação. Brasília: Liberlivro, pp. 143-146.
MAY, Tim. Pesquisa social – questões, métodos e processos. Porto
Alegre: Artmed, pp. 173-203.
da escola. In FAZENDA, Ivani (Org.). A pesquisa em Educação e as
transformações do conhecimento. Campinas: Papirus, pp.99-110.
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