sábado, 14 de agosto de 2010

A PONTE SALVADOR(a)ITAPARICA

A PONTE SALVADOR(a)ITAPARICA
O elo ausente na trama do desenvolvimento regional

Governador Jacques Wagner
Propositor do Edital para construção da Ponte

Notícia sobre publicação do edital da ponte




Na qualidade de cidadão natural de Salvador e munícipe de Vera Cruz/Ba vou me permitir equacionar algumas poucas questões trazidas pela tardia e desassombrada decisão das macropolíticas oficiais do Governo do Estado da Bahia: a construção da ponte sobre a Baía de Todos-os-Santos interligando Salvador à ilha de Itaparica, ao Recôncavo e ao Baixo-Sul baiano.





Sem a pretensão de ser “dono da verdade” nem de elaborar um parecer de especialista em manejo e/ou mapeamento ecológico-econômico da Baía de Todos os Santos vou abordar apenas alguns aspectos do impacto da construção da ponte Salvador(a)Itaparica na “aceleração” ou “apressamento” do processo de crescimento econômico, social e cultural da Bahia, e do Brasil, externando algumas preocupações com a repercussão deste empreendimento sobre o meio ambiente e socioeconômico na perspectiva crítica mas cívica dos direitos e deveres da cidadania em defesa da “sustentabilidade” do desenvolvimento regional.

Slideshow de fotos do projeto da ponte

Considerando a promessa de construção da ponte Salvador(a)Itaparica não apenas uma “bravata” eleitoreira para tomada de poder para a gestão do estado da Bahia, penso ser necessário opinar sobre este megaempreendimento – que fascina, assusta e afeta todos nós. Devo começar destacando pontos “positivos” da iniciativa - que implicarão vários giros vertiginosos em espiral ascendente criando oportunidades concretas de trabalho, emprego, crescimento econômico e cultural do/no estado:

(1) Beneficio e redução dos custos enredados na logística necessária ao escoamento da produção pesqueira e agro-industrial de todo o Recôncavo e Baixo-Sul baiano e do fluxo de produtos do parque industrial e petroquímico oriundos da Região Metropolitana de Salvador;

(2) Incontáveis oportunidades de bens e serviços relacionados à construção civil, ao comércio em geral e ao turismo em particular bem como atração de investimentos imobiliários nas áreas liberadas para urbanização que serão provavelmente integradas à Região Metropolitana de Salvador - sem prejuízo das APAs que circunscrevem reservas indígenas, quilombolas, ambientalistas, oceanográficas, de mata atlântica, manguezais, corais, fauna e flora nativas, estâncias hidrominerais da ilha de Itaparica, Recôncavo e Baixo-Sul baiano;

(3) Criação de condições otimizadas para implantação de campi avançados (cidades universitárias) de organizações particulares e sobretudo públicas (federais e estaduais) de educação superior e técnica na ilha de Itaparica particularmente das vocacionadas para as ciências médicas, da natureza e da terra, humanas, esporte, comunicações e artes;

(4) Possibilidade de requalificação do aeroclube (Clube de paraquedismo de Vera Cruz) convertendo-o em campo de pouso de apoio ao aeroporto internacional Luiz Eduardo Magalhães de Salvador;

(5) Atração de investimentos para a implantação de uma rede de assistência à saúde através de centros destinados à diversas terapias para o corpo e a mente paralelamente ao incremento à produção da indústria do esporte-lazer-turismo e da circulação de bens artísticos e culturais;

(6) Duplicação e privatização da Rodovia BA 001 no trecho entre a “ponte do funil” até o pedágio que dará acesso à travessia no sentido Itaparica-Salvador; criação de estações de transbordo para ônibus interligando localidades da ilha a terminais urbanos de Salvador permitindo transporte coletivo ágil e de grande capacidade para atender à demanda de movimentação da população particularmente de trabalhadores, com rápida ligação entre Recôncavo e Baixo-Sul à capital do estado.

Elencados alguns pontos “positivos” ou “benefícios” será útil desdobrá-los em seus contrários “negativos” sinalizando os “custos” humanos e sócio-ambientais para que sejam pensadas desde já políticas compensatórias e reparadoras dos prejuízos ecológicos e humanos gerados pelo empreendimento e seu “rápido” ciclo de crescimento - para que este venha a se tornar mais longo em sua duração de modo a converter-se em desenvolvimento cultural sustentável:

(1) A ponte atrairá um forte aporte de capital e com isso agilizará o processo atualmente em curso de concentração de terras e renda nos municípios localizados na ilha de Itaparica, Recôncavo e Baixo Sul baiano;

(2) A maioria da população insular, do Recôncavo e Baixo-Sul baiano possui baixíssima ou nenhuma escolaridade e sobrevive da pesca artesanal, da coleta de mariscos e de uma tímida agricultura familiar pulverizada em pequenas glebas que serão “violentamente” substituídas por grandes propriedades necessárias à instalação da infra-estrutura solicitada pelo empreendimento cujos PODEROSOS INVESTIDORES OBTERÃO PREVISIVELMENTE APOIO DO GOVERNO DO ESTADO;

(3) Os pequenos proprietários, agricultores familiares, comerciantes, pescadores e coletores de marisco, por não possuírem a qualificação profissional nem os meios de produção exigidos pela COMPETITIVIDADE do “novo” mercado de trabalho serão “convidados” ao êxodo e devem se concentrar em bolsões de pobreza periféricos às emergentes concentrações urbanas na ilha, Recôncavo, Baixo-Sul e região metropolitana de Salvador;

(4) Ocorrerá um significativo AUMENTO DA POPULAÇÃO RESIDENTE NA ILHA com ocupação laboral na região metropolitana de Salvador bem como a chegada de “novos baianos” (migrantes horizontais) atraídos pela promessa de oportunidades de trabalho, emprego e renda que produzirão mais lixo, mais conflitos sociais e culturais;

(5) A PRODUÇÃO DE LIXO, poluição, prostituição, abuso de drogas, trânsito de pedestres, tráfego de veículos, ócio, delitos, criminalidade e violência urbana serão incrementados o que desencadeará a demanda crescente por segurança pública, serviços de assistência à saúde física e mental, amparo social, educação continuada (escolarização) e transporte público de massa;

(6) A construção da ponte exigirá INVESTIMENTOS MUNICIPAIS URGENTES em transporte público de massa (ônibus com linhas e horários regulares interligando as várias localidades da ilha à sede do Poder Municipal em Mar Grande e aos terminais rodoviários para o acesso à travessia marítima pela ponte e sistema ferry-boat em Bom Despacho); iluminação pública ao longo da rodovia BA 001 e nas ruas perpendiculares que dão acesso aos vários loteamentos da ilha; serviços para coleta de lixo; rede de saneamento básico (esgotamento sanitário), pavimentação, sinalização padronizada de ruas, praças e numeração seqüenciada de imóveis (ordenamento do solo urbano); construção de plataformas e passarelas de embarque/desembarque no terminal aquaviário de Mar Grande com infraestrutura portuária que permita o fluxo regular entre a ilha e Salvador nas ocasiões de ocorrência de maré baixa (ausência de um acesso flutuante até o ponto onde se localiza o farol na fenda entre os arrecifes); recebimento residêncial de correspondência enviada por correio regular entre outras.

Destacadas aqui as contradições acima emerge a necessidade de ser formulada uma síntese para resolvê-las. Não se tem a pretensão com este texto de encontrar a resposta correta, mas antes destacar a importância da urgente busca de solução do problema. Os “custos” humanos e ambientais do empreendimento solicitarão várias políticas públicas municipais e do Governo estadual em PARCERIA COM A INICIATIVA PRIVADA de natureza não assistencialista e compensatória para manter o equilíbrio ecológico, socioeconômico e educativo tendo em vista a melhoria da qualidade de vida das populações “nativas” e de migrantes não-qualificados bem como sua “inclusão” produtiva no “novo” mercado de trabalho que a ponte incrementará. É preciso começar a pensar nisso desde já! Forjar o elo ausente na trama do desenvolvimento regional de modo indefectível pressupõe (co)laborar uma SÍNTESE para “resolver” os vários conflitos típicos dos processos de transformação cultural.

Vera Cruz/BA, 27 de março de 2010.

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