sábado, 14 de agosto de 2010

O (EN)CANTO DA NEGA DE UM PEITO SÓ

A palestra-espetáculo do Prof. Dr. Armindo Bião, na qual o extraordinário ator, acadêmico e educador baiano apresenta os resultados parciais obtidos com rigorosa e exaustiva pesquisa das origens e representações sociais do mito pagão Maria Padilha foi apresentada ao público como aula magna “aberta” a todos - elencando a programação oficial da Reitoria da UFBa destinada a comemorar o ingresso de acadêmicos em horário noturno no primeiro semestre de 2010.

Surpreendendo os que atenderam ao convite para a celebração solene da inauguração do calendário acadêmico, a aula hors-ligne apresentou-se como performance espetacular mágico-religiosa abrilhantada pelo virtuosismo cênicoimprovisacional hours-concurs de Bião, apoiado unicamente por seu extraordinário talento e por recursos cênicos mínimos como projeções de imagens/textos em data-show, sonorizada por excelente música instrumental com guitarra dedilhada ao vivo.


Bião em cena de Bocas do Inferno

Dirigido competentemente por Hebe Alves, Bião alcança a plenitude do método dramático para a exposição dos resultados parciais obtidos com sua rigorosa pesquisa através da tomada de variados papéis e entoando uma seleta de cânticos bizantinos e íberoamericanos tradicionalmente utilizados para saudar a “entidade” Maria Padilha.

Da ópera de Bizet ao cordel nordestino Bião canta e interpreta variados papéis com fôlego, afinação e entusiasmo contagiantes, paralelamente a exposição fluente dos fundamentos teórico-metodológicos e referenciais bibliográficos e áudio-visuais da investigação.

Curioso observar que Hebe é responsável pela encenação dos dois grandes espetáculos que inauguram o novíssimo teatro baiano e que acentuam, ambos, as extremidades expressivas da linguagem corporal: a saturação das possibilidades cênicas focalizando a dicção teatral em Padilha e a transcendência semântica da comunicação corporal exclusivamente não-verbal em Uma vez, nada mais. Duas pesquisas da estética cênica desenvolvidas no âmbito da Pós-Graduação em Artes Cênicas oferecidas pela Escola de Teatro da UFBa.

Ao aproveitar recursos do teatro épico contemporâneo como a tradução simultânea em telão dos textos enunciados em francês, português e idioletos, recorrendo à participação interativa antifonal da platéia em coro, a aula de Bião converte-se em genuína celebração dionisíaca mágicoreligiosa digna de subir aos palcos dos trios elétricos. Um show de didática para educadores e educandos acostumados aos ritos tradicionais típicos do ensino “expositivo”: Haute culture e TeatroEducação para todos!

A palestrArte de Bião é uma abordagem pedagógica ao Teatro renovadora ou “interativa” (pós-moderna) que demonstra ser promissora para apresentação de temas polêmicos e tabus na Academia – que, na contemporaneidade, permanece ainda lamentavelmente acorrentada a paradigmas de ensino modernistas.

Para aqueles como eu, com temperamento fortemente afetado pela mística sombra impertinente de Pomba Gira, um evento prazeroso e inesquecível. Aplausos e gritos calorosos pelo début de Maria Padilha nos palcos baianos – tão imantados de energia quanto nas saudações à “chegada” da entidade que ocorrem nos tablados flamencos e nos terreiros de umbanda. LA-RÔ-iÊXU fêmea! Olé! Ave Maria Sandra Rosa Marta Madalena DasDores! Parabéns Salvador! Axé Bahia!

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