sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Comentário acerca da entrevista de Gilles Lipovetsky à Fiosofia, Ciencia e Vida

O que mais chama atenção na provocação de Giles Lipovetsky é sua tentativa de denegar a pós-modernidade, propondo a denominação de “hipermodernidade” às circunstâncias sociohistóricas e culturais que modelam a atividade humana na contemporaneidade, ou seja, as bases da surpreendente organização das forças produtivas no capitalismo tardio - a transnacionalização e volatização do Capital.





Pareceu-me uma tentativa “idealista” desesperada de afirmação de um discurso que tenta subrepticiamente mascarar as bases materialistas histórico-dialéticas da vida humana sobre as quais se assenta o conceito de pós-modernidade.

Os extertores da modernidade não conseguirão deter a falência da crença na Ciência como possibilidade de melhoria das condições materiais, físicas e afetivas da existência dos seres humanos. Nem da Filosofia como sistema explicativo de verdades absolutas; nem da ingênua “crença” nos poderes formativos das tecnologias da informação e comunicação e da escolarização.

Chega a ser cínica sua afirmação de que “cada vez mais por meio do ‘hiperconsumismo’ cada indivíduo pode construir sua vida de uma maneira mais autônoma e livre, porque se é menos tributário do ponto de vista coletivo.”

Ora, sabe-se que o “hiperconsumismo” é um semblante da liberdade e a suposta “autonomia” garantida pelo consumo desenfreado - oportunizado pelo poder de “compra” de muitos - antes revela o aprisionamento das pessoas a cadeias de significações às quais aderem sem saber, sem querer saber e sem deixar chance alguma para outros saberem: um triste processo de coisificação a que somos todos submetidos com o recrudescimento do mercantilismo extendido a totalidade dos aspectos da vida social.

Resgatar os mitos da Filosofia é indecente e inaceitável da perspectiva pós-moderna.

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