Furtar e Foder
“No Brasil, por volta da segunda metade do século XVII, irá se destacar a figura do baiano formado em Leis por Coimbra, Gregório de Matos e Guerra, ‘músico popular e tocador de viola boêmio do seiscentismo colonial’ [Cf. José Ramos Tinhorão] “ (p.37)
FILHO, Abel Santos Anjos. (2002). Uma melodia histórica – Eco, Cocho, Cocho-Viola, Viola-de-Cocho. Cuiabá: A.S. Anjos Filho
“De volta à Bahia em 1682 (...) já em 1684, [Gregório de Mattos] inicia andanças boêmias pelos engenhos do Recôncavo baiano, cujos proprietários o abrigavam naturalmente atraídos por suas qualidades de compositor de coplas e romances – que acompanhava na viola ‘que por suas curiosas mãos fizera de cabaço’ (...)” (p.55)
TINHORÃO, José Ramos. (1998). História social da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Ed. 34.
“Em 1694 é deportado [Gregório de Mattos] por seus amigos para Angola, pois seus poemas contra o Governador Antonio Luiz Gonçalves da Camara Coutinho, o fanchono beato e amante do Capitão da Guarda, haviam indigitado o poeta com os filhos da autoridade, que queriam matá-lo. Em Angola, o poeta envolve-se em rebelião de militares, traindo-os, para poder retornar ao Brasil, sem permissão de vir para a Bahia, morrendo em Recife no ano de 1695”
PERES, Fernando da Rocha. (1996).Gregório de Mattos/Coleção Poesia Falada v1. Salvador: Luz da Cidade
“Gregório não deixou obra escrita. Entretanto, não se deve confundir sua produção com literatura oral nem popular no sentido em que vieram a assumir uma e outra, ou ambas, conjuntamente. Sua tradição mais recente é ibérica, e mais que lusíada, castelhana, sobretudo no que diz respeito à sátira.”
PARANHOS, Maria da Conceição. (1996). Gregório de Mattos/Coleção Poesia Falada v1. Salvador: Luz da Cidade.
Encenação de Bocas do Inferno - espetáculo sobre vida e obra de Gregório de Mattos e Guerra / Bahia 1979 |
Inesquecível performance de Armindo Bião como o irreverente Gregório de Mattos, dirigido por Deolindo Checcucci
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FURTAR E FODER
De dous [dois] ff [efes] se compõe
esta cidade ao meu ver
um furtar, outro foder
Se de dous [dois] ff [efes] composta
está a nossa Bahia,
errada, a ortografia
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta,
e quero um tostão perder
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade a meu ver.
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco,
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous [dois] ff [efes] chega ter,
pois nenhum contem sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff [efes] da cidade
um furtar, outro foder
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