YEMANJÁ
Rainha de Ayocá
ou A moça dos cabelos verdes [1]
De Jurema Penna
O início da peça é marcado por um longínquo canto de puxada de rede (que mistura-se com o Ijexá de Oxum) e se aproxima aos poucos à medida que cresce a luz de amanhecer. Uma estranha mulher, com roupas longas e transparentes, flores e fitas nos cabelos longos observa o mar com olhar perdido: é a Yaô. Chegam à praia as remenderias de rede. Cazuza e Duzinha iniciam a arrumação da barraca de praia (boteco). Na casa de Pedrão, Arruaça toma café enquanto Dulce cuida da casa. As remendeiras preparam a rede prendendo-a em varais para iniciar o seu trabalho enquanto conversam.
Toninha
Cê viu, Ceição, a lua dessa noite?
Ceição
E quem não viu? (Mudando o tom) Me dá uma saudade tão doída...
Toninha
Saudade de quem “mulé”?
Ceição
Da minha terra.
Toninha
Por que tu saiu de lá?
Ceição
A seca. A gente “retirou”.
Toninha
Deve de ser triste...
Ceição
Se é?!
Toninha
Também é triste ficar aqui esperando. Têm sempre um medo danado apertando o coração da gente...
Silêncio.
Ceição
Tomara que a rede venha farta!
Cantam.
Fui no mar buscar laranja
Coisa que no mar não tem
Voltei toda molhadinha
Das ondas que vão e vêm
Casa de Pedrão. Arruaça acaba de tomar café.
Arruaça
Já vou mãe!
Dulce
Pra onde?
Arruaça
Vou dar uma mãozinha na puxada; depois vou buscar o gelo.
Dulce
No compadre Cazuza?
Arruaça
Não “sinhora”, vou no galego.
Dulce
Tá certo. Mas vê se não procura briga!
Arruaça
Não procuro não mãe. São eles que “provoca”.
Dulce
Vai com Deus e não demora. Teu pai está chegando...
As remendeiras cantam.
Como dói meu coração
Esperar pelo meu bem
Vou cantar uma cantiga
Enquanto ele não vem
Na barraca de praia (boteco).
Duzinha
Hoje vai ser um sol de torrar o miolo!
Cazuza
Até hoje ninguém torrou!
Duzinha
Já sim. Diz que Severino ficou assim foi do sol...
Cazuza
Mas não foi o sol daqui, foi o sol lá do sertão!
Duzinha
E tem dois sol é? Sol é um só!
Cazuza
Êita mulé descompreendida! Tu bem sabe o qu`eu “tô falano”... É que aqui tem brisa, tem sombra, não tem seca. Se o sol daqui torrasse miolo, tudo quanto era pescador tava de miolo mole, tudo doido por aí!
Duzinha
Mas anda tudo de chapéu na cabeça. Deve de ser “medo”.
É um prazer encontrar essa informação porque eu trabalhei como atriz na peça "A moça de cabelos Verdes" que estreou no Teatro do SESC/Salvador.
ResponderExcluir]