Restrição do direito de acesso AO PRIMEIRO ANO DO ENSINO fundamental
Ricardo Japiassu |
Todos os enredados pela escolarização, neste pais, foram surpreendidos pela mais recente “recomendação” do Conselho Nacional de Educação: a decisão de estabelecer como condição sine qua non para a “matrícula” no primeiro ano do ensino fundamental o critério etário de o/a escolar possuir, completos, 6 (SEIS) anos de idade?!
O que causa espanto na proposição do Conselho é a imposição despudorada de um modo de comprender o aprendizadoensinado absolutamente atrelado à crenças hegemonizadas que pressupõem a “normalização” do desempenho em tarefas escolares específicas, avaliando as singularidades das performances do sujeito com base na correlação idade-série. Uma avaliação notadamente enviesada; porque amparada em expectativas predeterminadas de aquisição de habilidades e capacidades cognitivas, afetivas, motoras etc.
Contrariando a lógica não aristotélica (não sequencial), típica das práticas relacionais densamente irrigadas por múltiplos recursos para o conhecer na contemporaneidade, o Conselho aferra-se àquela ficção que “naturaliza” o sistema seriado como única possibilidade de apropriação dos conhecimentos e saberes socialmente valorizados. Ignora as possibilidades de crescimento intelectual e afetivo do sujeito por imersão em grupos multietários – como ocorre cotidianamente na vida em família e nos grupos sociais; nega a possibilidade de organização não seriada do aprendizadoensinado observada em relevantes projetos pedagógicos alternativos silenciando a experimentação e convivência tolerante com a diversidade de práticas educativas.
Conselheiros, chega de tantos remendos na regulamentação do sistema de ensino! Por favor, parem com isso: a cada gestão uma “papelada” com prescrições, regulamentações, nomenclaturas, alteração de regras?
Se desejam submeter-nos aos parâmetros transnacionalizados de “verificação” do aproveitamento escolar, atenham-se à elaboração e aplicação dos “exames” obrigatórios para averiguar os “resultados” esperados e deixem-nos atuar conforme nossas crenças, doxas e autonomia pedagógicas inegociáveis.
Seria mais útil somarmos esforços na busca por remuneração digna e oferecimento de melhores condições de trabalho e aperfeiçoamento da formação dos educadores e cuidadores da cultura infantil.
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