Tentarei tornar mais nítido, neste texto, o equacionamento da problemática da nomenclatura para referir usos do Teatro com objetivos explicitamente educacionais.
Ricardo Ottoni |
Faço isso buscando oferecer resposta a perguntas que me são dirigidas quando estou conectado a redes sociais das quais faço parte. Não se trata aqui de adotar o “modelo” impessoal, antidialógico, intolerante e pedante do serviço FAQ (Frequent Asked Questions = Perguntas Mais Frequentes) - “naturalizado” em sites movidos pela “urgência” e “pragmatismo” cujo objetivo é a “domesticação” e “uniformização” dissimulada do pensamento.
Não deve existir resposta rápida, “objetiva” ou “única” para solucionar o problema da taxonomia “oficial” para referir práticas educacionais ou educativas que reinvindicam o direito inalienável dos educadores de recorrerem ao poder da comunicação através do Teatro (da Linguagem Teatral) para a exposição didática de conteúdos disciplinares.
No livro Metodologia do Ensino de Teatro procuro expor o “pega-varetas” aberto sobre o tabuleiro do rigor acadêmico quando se quer abordar a dimensão educativa das Artes Cênicas: - Como remover as consignas-varetas, uma a uma, sem prejuízo do deslocamento das outras? Complicado. Sem dúvida, esta é uma ocupação que exige atenção, cuidado e tempo para finalizar a tarefa.
No capítulo primeiro do livro acima mencionado, intitulado Princípios pedagógicos do Teatro, ao longo dos subtítulos Teatro e currículo escolar e Abordagens pedagógicas do Teatro na Educação (páginas 26 a 30), consegue-se ter uma tímida aproximação do problema. Mas meu ponto de vista pessoal ali não “esgota” a discussão, expessa, das questões a serem equacionadas.
Vou tomar a pergunta de um acadêmico que nutria dúvida quanto ao modo de referir sua proposta de intervenção pedagógica no sentido de promover a apropriação da explicação científica de fenômenos observados em reações químicas. Pelo que entendi ele buscava apresentar um texto dramático (Teatro escrito) que pudesse ser encenado (Texto apresentado cenicamente, corporalmente, com tomada de papéis).
Sua dificuldade era caracterizar sua proposta adequadamente de modo a não ocorrer incompreensão do que pretendia desenvolver com objetivos instrucionais valendo-se do Teatro como recurso didático para o ensino de conceitos científicos de Química.
Dada as limitações das interações síncronas pela escrita via Rede (tempo de digitação, sacrifício da pontuação, grafia não ortodoxa de palavras etc) julguei oportuno utilizar OBSERVE para oferecer-lhe uma opinião menos apressadamente expressa em palavras.
No meu entendimento, expresso no livro, primeiramente é preciso entender que as dimensões INSTRUMENTALISTA (Teatro a serviço de conteúdos disciplinares ou “extrateatrais”) e ESSENCIALISTA (O que o Teatro ensina sobre as possibilidades “estéticas” do uso e manejo consciente da Linguagem Cênica e convenções teatrais) não se encontram assepticamente “isoladas”; que suas fronteiras apresentam-se “borradas” - como ocorre nos objetos representados visualmente recorrendo a pixels em suportes imateriais (digitalizados).
Deste ponto de vista, todo uso instrumental do Teatro revela uma opção do educador, consciente ou não, por um determinado tipo de “estética” cênica. Então uma encenação “realista-naturalista” de um texto dramático que busque, por exemplo, tornar menos “indigestos” densos conceitos matemáticos, elege necessariamente um modo de entender e conceber a atividade teatral como “ilusionista”, quer dizer, apela para que o observador/público “acredite” como verossímil e “real” uma realidade fundada na convenção (as “dramatizações” típicas dos programas de telecurso são muito úteis para exemplificar o que quero dizer aqui).
A rigor, a referência a este tipo de expediente didático, sem receio de possíveis eventuais objeções, pode ser consignado como “peça pedagógica” (Para ser lida, dita ou encenada). Em socorro do uso desta consigna pode-se recorrer ao amparo da citação do verbete “Teatro didático” redigido por Patrice Pavis, autoridade em estudos teatrais, localizado em seu Dicionário de Teatro, editado pela Perspectiva em 2001, às páginas 386-387.
Agradeço a todos os que me formularam questionamentos síncronos online e que, ao enunciá-los, colocaram em movimento o blog OBSERVE – ambiente virtual que não se confunde nem se propõe competir com agências de notíciamento de curiosidades ou efemérides da vida social, artística, cultural e ou privada de pessoas e grupos.
Proponho que seja usada doravante a expressão TEATRALIZAÇÃO EDUCACIONAL em substituição à consigna PEÇA PEDAGÓGICA.
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