segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O brincar como atividade organizadora das condutas do sujeito na infância

Ricardo Ottoni
A “periodização” (seriação) da escolarização se apresenta como planificação da atividade organizadora (dos modos de ser e pensar) das pessoas. A atividade coletivamente concebida como adequada ao período da ontogênese descrito como infância é o BRINCAR.
O brincar desencadeia  processos de culturalização (transformação) do psiquismo durante a infância e deve ser assegurado para garantir-se o aprender a ser Criança. Ser Criança é um lugar ou situação social que revela a posição do sujeito frente aos impedimentos de sua inserção produtiva  no mundo do trabalho. 

Brinquedoteca de organização para educação infantil da rede municipal de SP




Brincar é um modo de adiar ou “sublimar” a satisfação dos desejos de inclusão precoce do ser organicamente em crescimento no mundo das práticas relacionais entre sujeitos que possuem organismos com ciclo de crescimento biológico consolidado. Fundamental para alívio emocional em razão da mordaça imposta às vozes infantis pela chancela cultural. Neste sentido, o único canal de comunicação concedido aos enunciados infantis, conscientes ou não: a oportunidade para a imaginação por em movimento modos de ser, sentir e pensar.

“O teatro das crianças, quando pretende reproduzir diretamente as formas do teatro adulto, constitui uma ocupação pouco recomendável para crianças. Começar com um texto literário, memorizar palavras estranhas como fazem os atores profissionais, palavras que nem sempre correspondem à compreensão e aos sentimentos das crianças, interrompe a criação infantil e converte as crianças em repetidores de frases de outros obrigados pelo roteiro. Por isso se aproximam mais da compreensão infantil as obras compostas pelas próprias crianças ou improvisadas por elas no curso de sua criação.(...) Estas obras resultam sem dúvida mais imperfeitas e menos literárias que as preparadas e escritas por autores adultos, mas possuem a enorme vantagem de terem sido criadas pelas próprias crianças. Não se deve esquecer que a lei básica da criação artística infantil consiste em que seu valor não reside no resultado, no produto da criação, mas no processo de criação em si. (Destaques meus).


VYGOTSKY, L. S. La imaginación y el arte en la infancia. Madrid: Akal, 1982, p.46.  (Tradução livre minha)


Um comentário:

  1. Nesse sentido, acredito que o adulto/professor que atua na docência com crianças pequenas, necessita resgatar porções esquecidas da sua própria infância e permitir-se brincar com elas. E para isso necessita ter uma disponibilidade corporal, que o faça tomar consciência da sua expressividade na atuação docente com os pequenos. Mas não é o que eu tenho visto por aí...infelizmente.
    Elis

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