sábado, 2 de junho de 2012

Da curadoria educativa à mediação cultural


Da curadoria educativa à mediação cultural
SE O ASCENDENTE DE MAMÃE FOSSE AQUÁRIO 

Apesar da tentativa de aprisionamento do impactante texto dramático de Luiz Sergio Ramos na categoria “teatro do absurdo” por parte dos curadores educativos da TV Anísio Teixeira/SEC –Ba /IAT, na série “EM cena ação” (teleteatro), e do “congelamento” do material dramático em uma forma audiovisual invariante, a natureza aberta da criação autoral de Ramos recusa, como peixe agitado, o confinamento no aquário das consignas modernistas.
Em primeiro lugar, por razões histórico-socioculturais (o teatro do absurdo, a rigor, refere a produção dramatúrgica eurocêntrica de meados do século XX, e já estamos no século XXI, em plena pós-modernidade). 

Em segundo lugar, porque o aspecto estético do roteiro para encenação de Ramos, embora possa aproximar-se “fenotipicamente” do que se convencionou designar “teatro do absurdo”, revela uma carpintaria primorosa, consciente e cuidadosamente elaborada, que expressa o confrontar-se com os mundos provisórios, mutantes e fantasmáticos das realidades virtuais digitalizadas particularmente do ciberespaço típica dos seres humanos da era da informação

Sergio manipula ludicamente avatares (papéis) para denunciar o aprisionamento pelo Gozo à cadeias de siginificações (Lacan) dos que “não sabem”, “não querem saber” e “não querem deixar saber”. Amparado numa lógica não aristotélica (rizomática), incompatível com a “falta de sentido” paralítica e paralizante do “teatro de absurdo”, típica do modernismo, o texto dramático de Ramos deve elencar e inserir-se em uma outra “prateleira” dos produtos artísticoculturais da modernidade tardia (pós-modernidade).
Ocorrendo a mudança de rótulo e elevando-se sob prateleiras do passado próximo, o “peixe” de Ramos encontrará o reconhecimento e o destaque merecido no supermercado da indústria cultural, e assim estará livre para mover-se sem limites por lagos, rios, mares e oceanos.

Parabéns a todos que colaboraram o acesso à fruição e apreciação desta valiosa jóia da novíssima dramatugia genuinamente soteropolitana (de Salvador, baiana sem “H” – da baía de Todos-os-Santos, porque cosmopolita e não “étnico-folcóricorregional”).

Ao estilhaçar o “aquário” das curadorias educativas, a MEDIAÇÃO CULTURAL devolve à obras de arte sua plenitude, seu poder de encantar e provocar nos fruidores uma apreciação não totalmente submissa à tutela dos especialistas.

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Ricardo Ottoni


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