Da curadoria educativa à mediação cultural
SE O ASCENDENTE DE MAMÃE
FOSSE AQUÁRIO
Apesar da tentativa de
aprisionamento do impactante texto dramático de Luiz Sergio Ramos na categoria “teatro
do absurdo” por parte dos curadores educativos da TV Anísio Teixeira/SEC –Ba /IAT,
na série “EM cena ação” (teleteatro), e do “congelamento” do material dramático
em uma forma audiovisual invariante, a natureza aberta da criação autoral de
Ramos recusa, como peixe agitado, o confinamento no aquário das consignas modernistas.
Em primeiro lugar, por razões
histórico-socioculturais (o teatro do absurdo, a rigor, refere a produção
dramatúrgica eurocêntrica de meados do século XX, e já estamos no século XXI,
em plena pós-modernidade).
Em segundo lugar, porque o
aspecto estético do roteiro para encenação de Ramos, embora possa aproximar-se “fenotipicamente”
do que se convencionou designar “teatro do absurdo”, revela uma carpintaria
primorosa, consciente e cuidadosamente elaborada, que expressa o confrontar-se
com os mundos provisórios, mutantes e fantasmáticos das realidades virtuais
digitalizadas particularmente do ciberespaço típica dos seres humanos da era da
informação
Sergio manipula ludicamente
avatares (papéis) para denunciar o aprisionamento pelo Gozo à cadeias de
siginificações (Lacan) dos que “não sabem”, “não querem saber” e “não querem
deixar saber”. Amparado numa lógica não aristotélica (rizomática), incompatível
com a “falta de sentido” paralítica e paralizante do “teatro de absurdo”, típica
do modernismo, o texto dramático de Ramos deve elencar e inserir-se em uma
outra “prateleira” dos produtos artísticoculturais da modernidade tardia
(pós-modernidade).
Ocorrendo a mudança de
rótulo e elevando-se sob prateleiras do passado próximo, o “peixe” de Ramos
encontrará o reconhecimento e o destaque merecido no supermercado da indústria
cultural, e assim estará livre para mover-se sem limites por lagos, rios, mares
e oceanos.
Parabéns a todos que
colaboraram o acesso à fruição e apreciação desta valiosa jóia da novíssima
dramatugia genuinamente soteropolitana (de Salvador, baiana sem “H” – da baía
de Todos-os-Santos, porque cosmopolita e não “étnico-folcóricorregional”).
Ao estilhaçar o “aquário”
das curadorias educativas, a MEDIAÇÃO CULTURAL devolve à obras de arte sua
plenitude, seu poder de encantar e provocar nos fruidores uma apreciação não
totalmente submissa à tutela dos especialistas.
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Ricardo Ottoni |
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