sábado, 17 de março de 2012

Nódulo GLS TeatroEduComunicação


Nódulo GLS
TeatroEduComunicação
Prof. Dr. Ricardo Ottoni Vaz Japiassu


PROPOSTA GLS PARA ATIVIDADE (RE)CRIADORA DE GRUPOS EM/NA REDE AO MODO DE HIPERTEXTO

PROVOCAÇÃO INAUGURAL

Lily Trousse

 
Lily Trousse
Senhoras, Senhores: Bem-vindos ao cabaré narguillé Sodoma! Eu sou Lily Trousse, cabaretier do curral tabacaria vagalume da periferia. Alguns preferem o termo americano “hostess”. Mas cabaretier e hostess dá no mesmo: sou a anfitriã oficial do curral. Curral equivale a cabaré. Em português chulo significa zona, bordel; e também tem o mesmo sentido segundo a corruptela do inglês, em autêntico “brasilês” canibal: Cu-Hall – casa do oco... Ok, tá bom, como diria Dercy Gonçalves... Êpa: Pi-pi-piiii! O que ocorre na caverna marginal onde está instalada a boite Sodoma pode revolver sedimentos de desejos recalcados e ferir a moralidade judaico-cristã. Convido-lhes para uma excurssão a este beco das paixões sem culpa no extenso labirinto de ruas sem saída soterradas pela hipocrisia cínica da sociedade de classes! Aqui você poderá se achar... Ou se perder... Desejamos a todos que aproveitem de algum modo a “festa” do oco das paixões sem castigo do cabaré narguillé Sodoma. Bem-Vindos a anarquia das perversões humanas! Com vocês, a maloca das ações inconscientes... A casa do Oco! Vamos iniciar a programação de hoje chamando ao “queijão” [pista de 360º]...

 
(1) Tentem em grupos dar prosseguimento ao texto dramático apresentado acima formulando uma performance para a programação do cabaré narguillé Sodoma construindo colaborativamente a fala de Lily Trousse a partir do registro dramatúrgico das atuações teatrais propostas por vocês;
(2) As performances que subirão ao palco do cabaré Sodoma e que serão anunciadas ao público pela personagem Lily Trousse serão elencadas pelos grupos;

O modo como os grupos vão construir as suas atrações é livre e podem ser geradas tanto a partir de atuações improvisadas ou planificadas e negociadas previamente pelos participantes bem como fazendo uso da interconecção de variadas linguagens artísticas (música, dança, artes visuais etc).

(3) Procurem organizar uma mostra evanescente das performances colaboradas em/nos grupos equivalente à seriação dramatúrgica  de apresentação das “atrações” na modalidade mosaico;
(4) Tentem promover o revezamento dos integrantes da turma na tomada do papel de Lily Trousse não se prendendo à cópia da imagem sugerida para a personagem apresentada acima e permitam-se o amplo uso de pivôs que possam auxiliar no processo de (re)construção da caracterização da personagem cabaretier do curral tabacaria Sodoma;
(5) Cuidem para que todo o processo de colaboração das propostas para performance no “queijão” do cabaré por parte dos grupos seja exaustivamente documentado;
(6) Insiram os registros dramatúrgicos e iconográficos das performances no fórum online da turma.


CÁPSULA PARA ALIMENTAÇÃO ESTÉTICA

O teatro gay e mix na AMERICA [1]

 “Nos anos sessenta, as atitudes de ‘deixar rolar’ (laissez faire) concernentes ao estilo de vida se tornaram mais comuns. Alguns homossexuais decidiram não mais esconder sua orientação sexual e um pequeno número de grupos engajaram-se no desenvolvimento da aceitação de si mesmos e de seu status minoritário no sentido de serem aceitos pela maioria das pessoas. Os apelos dos grupos de teatro de ativistas gays por mudanças sociais de atitude trilharam dois caminhos cênicoestéticos: um caminho foi o travestismo que criava confusão e ambiguidade dos papeis sociais e enfatizava o ridículo das atitudes sociais urbanas (de rua) em relação aos papéis sexuais. Isso focalizou enfaticamente a distinção entre gêneros e as diferenças de orientação sexual privilegiando a subjetividade [Teatro Gay]. O outro caminho foi o de revelar os problemas dos homossexuais em uma sociedade regida pela heteronormatividade e seus semblantes [Teatro Mix].
Nos Estados Unidos da América The Play House of the Riciculous (A casa de festa/jogos [boate/danceteria] dos Ridículos) criada em Nova Iorque em 1965 pelo diretor e artista performático John Vaccaro ao lado do dramaturgo Ronald Tavel foi o primeiro desses grupos a aderir ao transformismo em suas atuações cênicas. Paralelamente ao abandono do texto emergiam paródias de filmes antigos, e atuações frenéticas que investiam em grande variedade de componentes escatológicos e sexuais reduzindo política, sociedade, religião e sexo ao absurdo.
[...] Em 1967, Charles Ludlam, ator do grupo de Vaccaro, criou a Ridiculous Theatrical Company (Companhia Teatral dos Ridículos) [...] [porem] o grupo gay mais exuberante foi o Cockettes que floreceu em São Francisco durante as comemorações do ano novo de 1969.
[...] Nos anos 70 muitos gays e feministas passaram a considerar o travestismo como atitude politicamente incorreta. A performance transformista era vista como ofensiva e depreciadora da mulher e do homem gay por não lidar satisfatoriamente com a problemática dos homossexuais. Novas companhias se formaram para abordarem de outro modo as questões sociais da homossexualidade.
Surge o The Gay Theatre Colletive (O Teatro Gay Coletivo ou O Coletivo Gay de Teatro) [Teatro Mix] em 1976 em São Francisco, inicialmente formado só por homens gays mas posteriormente incluindo mulheres lésbicas.”

SHANK, Theodore (1982) “Theatre of Social Change” [Teatro de Mudança Social] In: American Alternative Theater [Teatro Alternativo Norteamericano]. New York: Grove Press, p. 50-90, p.52-55. [Tradução livre de Ricardo Japiassu]


A atitude ubunto da cena viada no Brasil
A extensa transcrição acima de fragmentos do capítulo terceiro do livro Teatro Alternativo Norte-Americano (American Alternative Theater) de Theodor Shank intitulado Teatro de Mudança Social (Theater of Social Change) permite-nos identificar as origens do que se denomina Teatro Gay e Teatro Mix, nas sociedades ocidentais, particularmente na sociedade norte-americana a partir de meados dos anos sessenta.
No Brasil, o teatro gay tornou-se muito popular a partir dos anos 70 com os espetáculos do grupo Dzi Croquettes liderado pelo bailarino norte-americano Leny Dale.

(I) Pode-se falar em Teatro Gay (Queer Theater) no Brasil? E de Teatro Mix? Desde quando? Quais as implicações cênicoestéticas desta modalidade de atuação teatral?
(II) Existe mesmo o que alguns denominam na contemporaneidade neste pais arte viada, literatura viada, dramaturgia viada, teatro viado? Estas consignas lhes chocam? A escritura da palavra “viado” com “i” é antipedagógica? O que ela busca referir?

 (III) O que se sabe, hoje, sobre os desdobramentos e impactos cênicoestéticos do teatro gay norteamericano nas práticas artísticas e pedagógicas com a linguagem teatral [Teatro Mix] na contemporaneidade no Brasil? Tentem investigar pesquisas sobre o assunto bem como a gênese do interesse por estas questões publicizando os resultados de suas investigações paralelamente a seus pontos de vista em fóruns online.
Examinem o texto Psicologia da Atuação Teatral de Liev Vigotskii [Tradução comentada não publicada de Ricardo Japiassu]

(IV) O que, em sua opinião, busca referir a consigna TeatroDramaturgia Mix na contemporaneidade?

Se possível consultem o artigo Talento, suor e angústia de Fábio Rodrigues publicado na Revista da SBAT nº 518 de maio/jun de 2008, p. 32-36.

TRILHAS

Procurem consultar, recorrendo a ferramentas de busca na Rede, documentos sobre o assunto, a cinematografia de Pier Paolo Pazolini e a produção iconográfica do fotógrafo norteamericano Maplethorpe. Tentem investigar o que se diz sobre a obra de Cazuza e Caio Fernando Abreu.



[1] Tradução livre minha de fragmentos do capítulo terceiro de SHANK, Theodore (1982) “Theatre of Social Change” [Teatro de Mudança Social] In: American Alternative Theater [Teatro Alternativo Norte-americano]. New York: Grove Press, p. 50-90, p.52-55.

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