Nódulo GLS
TeatroEduComunicação
Prof. Dr. Ricardo Ottoni Vaz Japiassu
PROPOSTA GLS PARA ATIVIDADE (RE)CRIADORA DE GRUPOS EM/NA REDE AO MODO DE HIPERTEXTO
PROVOCAÇÃO INAUGURAL
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Lily Trousse |
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Lily Trousse
Senhoras, Senhores: Bem-vindos ao cabaré narguillé Sodoma! Eu sou Lily Trousse, cabaretier do curral tabacaria vagalume da periferia. Alguns preferem o termo americano “hostess”. Mas cabaretier e hostess dá no mesmo: sou a anfitriã oficial do curral. Curral equivale a cabaré. Em português chulo significa zona, bordel; e também tem o mesmo sentido segundo a corruptela do inglês, em autêntico “brasilês” canibal: Cu-Hall – casa do oco... Ok, tá bom, como diria Dercy Gonçalves... Êpa: Pi-pi-piiii! O que ocorre na caverna marginal onde está instalada a boite Sodoma pode revolver sedimentos de desejos recalcados e ferir a moralidade judaico-cristã. Convido-lhes para uma excurssão a este beco das paixões sem culpa no extenso labirinto de ruas sem saída soterradas pela hipocrisia cínica da sociedade de classes! Aqui você poderá se achar... Ou se perder... Desejamos a todos que aproveitem de algum modo a “festa” do oco das paixões sem castigo do cabaré narguillé Sodoma. Bem-Vindos a anarquia das perversões humanas! Com vocês, a maloca das ações inconscientes... A casa do Oco! Vamos iniciar a programação de hoje chamando ao “queijão” [pista de 360º]...
(1) Tentem em grupos dar prosseguimento ao texto dramático apresentado acima formulando uma performance para a programação do cabaré narguillé Sodoma construindo colaborativamente a fala de Lily Trousse a partir do registro dramatúrgico das atuações teatrais propostas por vocês;
(2) As performances que subirão ao palco do cabaré Sodoma e que serão anunciadas ao público pela personagem Lily Trousse serão elencadas pelos grupos;
O modo como os grupos vão construir as suas atrações é livre e podem ser geradas tanto a partir de atuações improvisadas ou planificadas e negociadas previamente pelos participantes bem como fazendo uso da interconecção de variadas linguagens artísticas (música, dança, artes visuais etc).
(3) Procurem organizar uma mostra evanescente das performances colaboradas em/nos grupos equivalente à seriação dramatúrgica de apresentação das “atrações” na modalidade mosaico;
(4) Tentem promover o revezamento dos integrantes da turma na tomada do papel de Lily Trousse não se prendendo à cópia da imagem sugerida para a personagem apresentada acima e permitam-se o amplo uso de pivôs que possam auxiliar no processo de (re)construção da caracterização da personagem cabaretier do curral tabacaria Sodoma;
(5) Cuidem para que todo o processo de colaboração das propostas para performance no “queijão” do cabaré por parte dos grupos seja exaustivamente documentado;
(6) Insiram os registros dramatúrgicos e iconográficos das performances no fórum online da turma.
CÁPSULA PARA ALIMENTAÇÃO ESTÉTICA
O teatro gay e mix na AMERICA
“Nos anos sessenta, as atitudes de ‘deixar rolar’ (laissez faire) concernentes ao estilo de vida se tornaram mais comuns. Alguns homossexuais decidiram não mais esconder sua orientação sexual e um pequeno número de grupos engajaram-se no desenvolvimento da aceitação de si mesmos e de seu status minoritário no sentido de serem aceitos pela maioria das pessoas. Os apelos dos grupos de teatro de ativistas gays por mudanças sociais de atitude trilharam dois caminhos cênicoestéticos: um caminho foi o travestismo que criava confusão e ambiguidade dos papeis sociais e enfatizava o ridículo das atitudes sociais urbanas (de rua) em relação aos papéis sexuais. Isso focalizou enfaticamente a distinção entre gêneros e as diferenças de orientação sexual privilegiando a subjetividade [Teatro Gay]. O outro caminho foi o de revelar os problemas dos homossexuais em uma sociedade regida pela heteronormatividade e seus semblantes [Teatro Mix].
Nos Estados Unidos da América The Play House of the Riciculous (A casa de festa/jogos [boate/danceteria] dos Ridículos) criada em Nova Iorque em 1965 pelo diretor e artista performático John Vaccaro ao lado do dramaturgo Ronald Tavel foi o primeiro desses grupos a aderir ao transformismo em suas atuações cênicas. Paralelamente ao abandono do texto emergiam paródias de filmes antigos, e atuações frenéticas que investiam em grande variedade de componentes escatológicos e sexuais reduzindo política, sociedade, religião e sexo ao absurdo.
[...] Em 1967, Charles Ludlam, ator do grupo de Vaccaro, criou a Ridiculous Theatrical Company (Companhia Teatral dos Ridículos) [...] [porem] o grupo gay mais exuberante foi o Cockettes que floreceu em São Francisco durante as comemorações do ano novo de 1969.
[...] Nos anos 70 muitos gays e feministas passaram a considerar o travestismo como atitude politicamente incorreta. A performance transformista era vista como ofensiva e depreciadora da mulher e do homem gay por não lidar satisfatoriamente com a problemática dos homossexuais. Novas companhias se formaram para abordarem de outro modo as questões sociais da homossexualidade.
Surge o The Gay Theatre Colletive (O Teatro Gay Coletivo ou O Coletivo Gay de Teatro) [Teatro Mix] em 1976 em São Francisco, inicialmente formado só por homens gays mas posteriormente incluindo mulheres lésbicas.”
SHANK, Theodore (1982) “Theatre of Social Change” [Teatro de Mudança Social] In: American Alternative Theater [Teatro Alternativo Norteamericano]. New York: Grove Press, p. 50-90, p.52-55. [Tradução livre de Ricardo Japiassu]
A atitude ubunto da cena viada no Brasil
A extensa transcrição acima de fragmentos do capítulo terceiro do livro Teatro Alternativo Norte-Americano (American Alternative Theater) de Theodor Shank intitulado Teatro de Mudança Social (Theater of Social Change) permite-nos identificar as origens do que se denomina Teatro Gay e Teatro Mix, nas sociedades ocidentais, particularmente na sociedade norte-americana a partir de meados dos anos sessenta.
No Brasil, o teatro gay tornou-se muito popular a partir dos anos 70 com os espetáculos do grupo Dzi Croquettes liderado pelo bailarino norte-americano Leny Dale.
(I) Pode-se falar em Teatro Gay (Queer Theater) no Brasil? E de Teatro Mix? Desde quando? Quais as implicações cênicoestéticas desta modalidade de atuação teatral?
(II) Existe mesmo o que alguns denominam na contemporaneidade neste pais arte viada, literatura viada, dramaturgia viada, teatro viado? Estas consignas lhes chocam? A escritura da palavra “viado” com “i” é antipedagógica? O que ela busca referir?
(III) O que se sabe, hoje, sobre os desdobramentos e impactos cênicoestéticos do teatro gay norteamericano nas práticas artísticas e pedagógicas com a linguagem teatral [Teatro Mix] na contemporaneidade no Brasil? Tentem investigar pesquisas sobre o assunto bem como a gênese do interesse por estas questões publicizando os resultados de suas investigações paralelamente a seus pontos de vista em fóruns online.
Examinem o texto Psicologia da Atuação Teatral de Liev Vigotskii [Tradução comentada não publicada de Ricardo Japiassu]
(IV) O que, em sua opinião, busca referir a consigna TeatroDramaturgia Mix na contemporaneidade?
Se possível consultem o artigo Talento, suor e angústia de Fábio Rodrigues publicado na Revista da SBAT nº 518 de maio/jun de 2008, p. 32-36.
TRILHAS
Procurem consultar, recorrendo a ferramentas de busca na Rede, documentos sobre o assunto, a cinematografia de Pier Paolo Pazolini e a produção iconográfica do fotógrafo norteamericano Maplethorpe. Tentem investigar o que se diz sobre a obra de Cazuza e Caio Fernando Abreu.