Ricardo Ottoni Vaz Japiassu |
A psicologia cultural é descrita por Cole (1998a, p.104-105) como disciplina congregadora das vertentes naturalista e culturalista dos estudos do pensamento baseada em uma abordagem sócioculturalista “não eclética” ao psiquismo tipicamente humano, em resposta ao “bate-boca” entre defensores intransigentes da “diferença” ou especificidade das teorias histórico-cultural e da atividade, ambas oriundas do programa de estudos e pesquisas inaugurado por Vigotskii.
A psicologia cultural é a convincente argumentação
de Cole em resposta às acusações de o sócioculturalismo
(escola pan-americana de psicologia inaugurada por ele) e sua THCA orquestrarem
um movimento transnacionalizado para despir a teoria histórico-cultural/THC de sua matriz
materialista-histórico-dialética. (Duarte Jr., 2001; Elhammoumi, 2009; Toomela&Valsiner,
2010)
Discutir
se ocorre ou não uma tentativa de assepcia da fundamentação materialistamarxista
da THC por parte do sócioculturalismo
nos parece enfadonho por sua insistente resiliência em fóruns acadêmicos nos
quais neomarxistas reivindicam o direito exclusivo à propriedade de teorias
fundadas no materialismo-histórico-dialético. Discutir isso nos levaria a perder
de vista o que nos propomos modestamente aqui: expor abreviada e velozmente
nosso ponto de vista sobre o impacto das TIC na formação da mente social focalizando particularmente
o aspecto plástico da atividade quando
o pensamento permanentemente em obras, em processo continuado de colaboração e
desenvolvimento, deixa-se irrigar por diferentes lexias em sua intricada teia
de conexões à moda hipertextual.
Faz-se
necessário ressaltar que em suas conspícuas narrativas teorizantes sobre a atividade nem Leontiev tampouco Luria negam
que Vigotskii tenha renunciado às convicções materialistas-histórico-dialéticas
acerca das origens sociais da mente. Sua principal ocupação é preservar os
saberes obtidos com as primeiras investigações de orientação vigotskiana e,
honestamente, trazerem a público uma autocrítica da “troika” (trinca de
pesquisadores elencada por eles sob a liderança de Vigotskii) reconhecendo os
limites dos estudos que se ocuparam incialmente em privilegiarem o papel do
pensamento verbal na formação da mente
social.
É
oportuno lembrar que Vigotskii reconheceu explicitamente como legítima a tese
materialista-histórico-dialética de que as origens do psiquismo culturalizado
encontram-se na atividade prática
colaborativa - o que pode ser constatado no seu questionamento corajoso do postulado
bíblico apresentado no versículo primeiro do Evangelho I segundo João (1963) de
que “no princípio era o Verbo” (p.
95): “a palavra não foi o princípio – a ação já existia antes dela; a palavra é
o final do desenvolvimento, o coroamento da ação” ( Vygotsky, 1993, p. 131).
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